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2024

um manifesto sobre salas de esperas escrito em uma sala de espera

ah, o clima de uma sala de espera. não tem nada mais sufocante do que aquela combinação precisa de silêncio forçado e inquietação mascarada. ninguém ali está confortável, mas também ninguém ousa mostrar. é uma dança estranha, onde todo mundo finge que está tudo bem, enquanto cada segundo te deixa um pouco mais perto de arrancar os cabelos. você entra com pressa, mas em questão de minutos o lugar já te engole, e de repente, o tempo parece que foi sugado para um buraco negro de indiferença.

as pessoas? elas parecem zumbis. olhos vidrados, corpos imóveis, como se o simples ato de existir ali drenasse toda a energia vital. uns mexem no celular, mas sem real interesse. só deslizam os dedos de um lado pro outro, como se estivessem tentando hipnotizar a si mesmos. outros encaram o nada, aquele olhar perdido que diz “eu não pertenço a esse lugar”, mas ao mesmo tempo sem vontade de fazer qualquer coisa a respeito. e sempre tem aquele barulho irritante de alguém folheando uma revista velha, tentando parecer ocupado com algo que nem vale o papel em que foi impresso.

ninguém conversa, porque falar implicaria em reconhecer que existe vida nesse ambiente morto. todo mundo prefere se isolar na própria bolha de desconforto silencioso. e há uma regra não escrita de que você deve evitar qualquer tipo de interação humana. olhares são trocados, mas rapidamente desviados. ninguém quer ser lembrado que está vivendo o mesmo inferno. então, cada um finge que está imerso no próprio mundinho, enquanto a tensão cresce, espessa como fumaça invisível no ar.

e o mais absurdo é que todos aceitam isso como parte da vida. é como se fôssemos treinados desde cedo para sermos bons cidadãos de salas de espera, mantendo a compostura, mesmo quando por dentro estamos gritando. aquele clima de falsa civilidade, onde você reprime todo e qualquer desejo de surtar, porque surtar em público? deus me livre. então, você segue, educadamente sufocando na própria ansiedade, em meio a uma multidão que faz exatamente o mesmo.

no fundo, o clima da sala de espera não é só de espera — é de rendição. você já sabe que está condenado a ficar ali por um tempo indeterminado. o tempo parou, mas a sua ansiedade está em alta rotação. e tudo isso acontece num silêncio tão opressor que o simples som de alguém trocando de posição na cadeira soa como um alarme. é o peso da expectativa, da inércia coletiva, do saber que, por um tempo, você e todos os outros estão presos numa espécie de limbo.