
se cuidar agora virou uma espécie de espetáculo, uma performance, né? tem que postar tudo, registrar cada passo nessa busca insana por equilíbrio, bem-estar e felicidade eterna. toda hora alguém te manda um link de um curso novo, um retiro espiritual numa ilha exótica, ou uma dieta mágica de ervas do tibete. é uma fábrica de ilusões, com gente de colã e rostos perfeitamente serenos te ensinando como você deve ser. parece que ninguém mais pode simplesmente estar bem. você tem que estar ótimo, o tempo todo. é quase uma corrida pra ver quem consegue se iluminar primeiro.
mas, no fundo, ninguém quer admitir que a coisa é mais bagunçada que isso. cuidar da saúde emocional não é acordar com os chakras alinhados depois de um smoothie de spirulina. não é se cobrir de cristais ou repetir mantras como um robô zen programado pra ignorar a realidade. é lidar com a porcaria do dia a dia, o caos, o medo, a ansiedade, a tristeza, o tédio. é aceitar que tá tudo meio ferrado, mas que tá tudo bem também, porque faz parte do pacote. e aí sim, talvez você encontre um pouco de paz. não aquela paz pasteurizada de rede social, mas uma paz suja, imperfeita, que te permite respirar no meio do furacão.
e a saúde física? virou um circo também. tem que correr, tem que jejuar, tem que subir montanhas, descer montanhas, seguir a dieta cetogênica da moda. como se fosse pecado só caminhar por aí sem um propósito específico, só porque o sol tá bonito ou porque o ar tem aquele cheiro de chuva que te faz sentir vivo. claro, exercício é importante. mas às vezes, o maior cuidado que você pode ter com seu corpo é dar a ele uma pausa. comer uma comida que te faz sorrir. não porque ela tem todas as calorias e nutrientes milimetricamente contados, mas porque te lembra de algum momento bom ou porque simplesmente te deixa feliz.
se cuidar, no fim das contas, não deveria ser essa busca maníaca por se transformar num monumento à saúde perfeita. deveria ser sobre encontrar o que realmente te faz bem, sem seguir o script de ninguém. porque, se for pra ser um eterno mar de pressões e expectativas, de que adianta?
talvez cuidar de si seja menos sobre ter a resposta certa e mais sobre fazer as perguntas certas. do que eu realmente preciso hoje? o que me faz bem? é abraçar o caos e, no meio dele, encontrar o seu jeito único de estar bem. talvez um jeito que não se poste no instagram, mas que realmente faça sentido pra você.