
ah, a paternidade. aquele clube exclusivo onde ninguém te entrega o verdadeiro manual — porque, na real, ninguém sabe o que tá fazendo e muito menos tem tempo pra escrever um. ser pai é quase uma daquelas seitas esotéricas: te prometem uma “iluminação”, uma “transformação de vida”, mas esquecem de mencionar o lado surreal, hilário e até surrealista dessa história.
ninguém te conta, por exemplo, que ser pai é redescobrir o que é puro caos. você entra numa rotina onde a palavra rotina é só uma piada interna entre você e o travesseiro. é tipo viver com um relógio biológico que desrespeita todos os fuso-horários conhecidos e inventados, onde dormir mais que três horas consecutivas vira um luxo equivalente a uma massagem tailandesa. mas — surpresa! — você se adapta. o corpo humano tem essa capacidade insana de funcionar no piloto automático, regado a café e ao som de choros noturnos que são o equivalente auditivo de um alarme de incêndio.
e o amor? ah, o amor não é o que aparece no comercial de margarina. é muito mais como uma febre passageira. às vezes, seu filho te acorda às 4 da manhã porque quer um copo d’água (ou porque resolveu que é o momento ideal para debater sobre dinossauros), e você, exausto, com cara de zumbi, faz aquilo porque, de alguma maneira que a ciência nunca vai explicar, você faria qualquer coisa por aquele ser humano miúdo. mas, ao mesmo tempo, você sente uma saudade absurda da época em que paz era um conceito real.
agora, o lado oculto e espetacular: ser pai é como ter um passe de backstage para o universo paralelo das crianças. essas criaturinhas vivem num mundo que é, em partes iguais, lógico e completamente nonsense. de repente, você está lá, assistindo seu filho levar uma conversa séria com um brinquedo, planejando uma viagem intergaláctica com um balde na cabeça. e você percebe que a mente dele é uma espécie de fábrica de sonhos, uma bolha de criatividade que não dá a mínima pra lógica do mundo adulto. se você der espaço e não interferir, essas pequenas mentes te convidam pra mergulhar nesse universo de puro absurdo e honestidade brutal. e é viciante.
e o humor? é outra coisa que ninguém te conta. crianças são, sem querer, os maiores comediantes vivos. o sarcasmo inocente, a lógica torta, as perguntas que te deixam entre o riso e o existencialismo — é uma dose diária de terapia humorística. tipo quando seu filho te pergunta por que você tem essa cara ou se um pato e um porco podem ser amigos de verdade. isso te obriga a enxergar o mundo com outros olhos, uma ótica onde o extraordinário e o banal se encontram num só.
ah, e se prepare para o ego em frangalhos. seus filhos serão os primeiros a apontar cada falha sua, com a sinceridade de um monge budista. e aí você aprende a rir de si mesmo, porque afinal, não tem outro jeito. quer se achar invencível? seja pai de uma criança que vai te derrubar sem esforço com um comentário sobre seu cabelo “esquisito” ou seu jeito “estranho” de comer.