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2024

uma mochila

viajar com uma mochila só é uma afronta direta à turma das malas louis vuitton. sabe aquele desfile de rodinhas, tags de aeroporto, bagagens combinando como se fossem amuletos de proteção? então. é quase uma religião pra essas pessoas, a liturgia do excesso, do “e se”. “e se eu precisar de uma roupa extra pra jantar?” “e se eu encontrar alguém conhecido?” “e se a temperatura cair dois graus?” enquanto isso, eu? eu estou lá com uma mochila nas costas, sem espaço pra neuroses ou frescuras. leve, direto ao ponto. já na frente, enquanto você está no carrossel, esperando suas três malas de grife com os olhos cheios de desespero.

“como você consegue viajar só com uma mochila?” a resposta é simples: desapego e uma leve dose de desprezo por tudo o que é supérfluo. é enxergar além da ideia de que precisamos carregar o mundo conosco pra realmente estar em algum lugar. é uma prática, quase uma filosofia. você aprende a escolher o que vale a pena. e quase nada vale. a maioria das coisas que você acha que precisa? ilusão. você não precisa de 12 mudas de roupa pra uma viagem de cinco dias. você precisa de uma troca decente, uma escova de dentes, e, se me permite, uma dose de coragem pra abrir mão da falsa segurança que o excesso traz. a mochila é brutal, é crua, e não perdoa nada que seja inútil.

uma mochila te obriga a fazer escolhas com uma honestidade que o resto do mundo foge a vida inteira. cada item ali foi julgado e teve que justificar seu valor. espaço pra um bom livro? claro. um bloco de notas? não tem discussão. agora, aquele terceiro par de sapatos? aquele casaco que combina com o humor? fica. o que você ganha com isso é algo que a maioria das pessoas nunca vai entender: liberdade. liberdade de andar sem arrastar o peso do que você nem precisa. e quer saber? no fim, ninguém vai lembrar de como você estava vestido enquanto se encantava com aquele pôr do sol em bali ou enquanto enfrentava o vento em uma trilha nos andes. o que fica são os momentos e a intensidade de estar presente. e esses não exigem malas caras, etiquetas, ou combinações. eles só exigem que você esteja ali, de verdade.

então, por que eu viajo só com uma mochila? porque eu quero estar sempre pronto, leve, sem âncoras. quando a estrada chama, eu posso simplesmente ir, sem perda de tempo. enquanto o resto se enrosca nas próprias bagagens, eu dou um passo adiante. uma mochila. uma escolha. nada além do essencial. e posso garantir: não sinto falta de absolutamente nada.