
então, aí está você. vivendo a grande e monótona ópera que chamamos de “vida moderna”. não me entenda mal, eu não sou um desses pregadores do apocalipse que acham que tudo está perdido. longe disso. eu só tenho uma leve suspeita de que passamos tempo demais tentando convencer o mundo (e nós mesmos) de que estamos realmente vivendo. mas não estamos. estamos nos enganando com um coquetel de distrações perfeitamente calibradas. e o mais impressionante? estamos adorando isso.
olha ao redor. somos um bando de animais elegantes, tecnologicamente sofisticados, completamente apavorados com o silêncio. não conseguimos ficar sentados, sozinhos, sem um telefone na mão ou uma playlist tocando de fundo. porque, deus nos livre, o que faríamos com o som dos nossos próprios pensamentos? e ainda assim, tem uma beleza nisso tudo. um tipo de tragicomédia. é o ser humano na sua forma mais pura: perdido, teimoso e tentando desesperadamente encontrar sentido em meio ao caos.
mas vamos lá. sejamos justos. tem seus momentos. às vezes você tropeça em alguma coisa real. uma conversa que não é filtrada pelo brilho do celular. uma caminhada sem destino, onde você sente o vento – não a metáfora do vento, mas o vento de verdade, aquele que bagunça o cabelo e te lembra que você ainda está aqui. ou talvez seja um sorriso de um estranho na rua, um que parece dizer: “é, eu também não faço ideia do que estou fazendo”. e é aí que está o truque. essas pequenas faíscas.
não estou aqui pra pregar fuga do sistema ou uma cruzada contra a modernidade. tudo isso é uma grande palhaçada, e você sabe disso. mas eu estou dizendo pra você fazer uma pausa, de vez em quando. largar a performance, só por um segundo. porque, no final, o que sobra? a conta bancária? os seguidores? a carreira brilhante? não, meu amigo. sobra a história. o quanto você realmente esteve aqui. o quanto você viveu antes de desaparecer como todo mundo. e, sejamos honestos, ninguém quer desaparecer sem deixar uma boa história.