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2024

eu odeio listas de metas para o próximo ano

listas de metas para o próximo ano. me diga, com toda a honestidade do mundo: você realmente acredita nessa palhaçada? ou isso é só mais uma desculpa socialmente aceitável para fingir que a bagunça caótica que chamamos de vida pode ser resolvida com meia dúzia de tópicos escritos em um caderninho que você vai esquecer na gaveta antes mesmo do carnaval? vamos encarar os fatos: listas de metas não são planejamento, são teatro. e você não é protagonista de nada. é só mais um figurante tentando dar sentido a um roteiro que ninguém escreveu.

o engraçado – ou trágico, dependendo do humor – é que essas listas geralmente começam com o que chamo de “mentiras clássicas”. “vou cuidar mais da minha saúde.” ah, por favor. você sabe tão bem quanto eu que o mais perto que você vai chegar disso é assinar uma academia que nunca vai frequentar ou comprar um pacote de chá que promete “desintoxicar” a alma. cuidar da saúde? nem sei se você lembra como é uma salada, e tenho certeza de que aquele tênis de corrida que você comprou no ano passado ainda está com a etiqueta.

e a grande campeã das resoluções inúteis: “vou economizar dinheiro.” porque, claro, o plano é gastar menos e “pensar no futuro”. mas aí aparece aquele celular novo, ou uma viagem irresistível, e lá vai você, culpando as “circunstâncias” enquanto seu saldo bancário grita por socorro. a verdade é que você quer economizar, mas só depois de ter comprado absolutamente tudo o que te fizer sentir momentaneamente menos miserável.

e o desenvolvimento pessoal? “vou ler mais, aprender um idioma, fazer um curso.” é sempre a mesma conversa fiada. você compra dois livros que nunca termina, baixa um aplicativo de idiomas que te manda notificações irritantes por uma semana, e paga por um curso online que só serve para encher sua caixa de entrada com e-mails que você nem lê. no final, a única coisa que você realmente aprendeu é que nunca vai cumprir nada disso – mas ei, ao menos você tentou, certo?

a realidade é que essas listas existem por uma razão muito específica: elas te dão a ilusão de controle. como se escrever “ser uma pessoa melhor” em um pedaço de papel fosse te transformar magicamente em alguém digno de admiração. mas sabe qual é a verdade? você não quer ser uma pessoa melhor. quer apenas parecer uma. quer postar nas redes sociais que está “em uma jornada de autoconhecimento”, enquanto vive exatamente como sempre viveu – no piloto automático, tomando decisões que nem você entende.

não me entenda mal. eu não sou contra mudanças. sou contra mentiras. contra essa farsa anual que nos faz acreditar que é possível resolver a complexidade de nossas vidas com meia dúzia de frases vagas e irrealizáveis. o que você realmente quer – e sabe disso – não está em uma lista. não pode ser resumido em “perder peso” ou “ser mais produtivo”. o que você quer é algo real, tangível, que te tire da rotina e te faça sentir vivo. e isso, meu amigo, não se planeja. isso acontece.

então aqui vai minha sugestão para o próximo ano: esqueça a lista. coma algo memorável. vá a um lugar onde nunca esteve. diga “sim” a algo que te assusta. passe mais tempo com pessoas que te fazem rir até a barriga doer e menos com gente que você suporta por obrigação. não porque isso vai te transformar, mas porque, no final das contas, é isso que realmente importa. o resto? o resto é só tinta no papel.