Categorias
2024

o final de ano

dezembro. o mês em que a humanidade resolve provar, mais uma vez, que perdeu completamente a sanidade. não é o natal, não é o ano novo – são os dias que precedem essas datas. essa febre coletiva, essa histeria mal disfarçada de “preparativos”. todo mundo agindo como se estivesse numa competição olímpica de “quem consegue perder mais a cabeça no menor tempo possível”. é fascinante, na pior forma possível.

o que me espanta é como tudo, absolutamente tudo, vira um exercício de caos. o simples ato de sair de casa se torna uma missão suicida. as ruas, normalmente confusas, se transformam numa selva urbana onde ninguém sabe pra onde tá indo, mas todo mundo tem pressa pra chegar lá. filas pra tudo: caixa eletrônico, estacionamento, farmácia, até pra entrar no elevador do prédio. as pessoas parecem possuídas, cada uma com uma lista de tarefas impossíveis e um senso de urgência que só piora a situação.

e os mercados? meu deus, os mercados. você entra pra comprar algo simples, tipo pão, e é recebido por uma multidão que decidiu que hoje é o dia de estocar suprimentos pra uma guerra nuclear. perus congelados voam de um carrinho pro outro, pessoas brigam pelo último pacote de uvas-passas como se aquilo fosse a chave pra sobrevivência da humanidade, e sempre tem alguém parado no meio do corredor, encarando uma prateleira como se estivesse escolhendo o destino do próprio filho. o ambiente? uma mistura de gritos, sons de carrinhos colidindo e aquela música de natal insuportável tocando no fundo, como um lembrete sádico de que não há escapatória.

e os shoppings? ah, os shoppings são o apocalipse com escadas rolantes. você não entra num shopping em dezembro, você é sugado pra dentro dele, engolido por uma massa de pessoas em busca de “presentes perfeitos” que, no fundo, ninguém quer ou precisa. crianças gritam porque o papai noel é assustador, adultos gritam porque não conseguem achar vaga no estacionamento, e todo mundo parece preso num frenesi de consumo compulsivo, como se a data tivesse se transformado numa desculpa pra enlouquecer em público.

e, claro, tudo isso culmina nas tão esperadas festas de fim de ano corporativas. ah, sim, o glorioso circo corporativo, onde o chefe tenta parecer humano, o estagiário bebe demais, e aquele colega insuportável que você mal tolera no dia a dia acha que é uma ótima ideia puxar conversa sobre “metas para o próximo ano”. o ambiente? um pesadelo semi-iluminado por luzes pisca-pisca, com música ruim tocando tão alto que ninguém consegue ouvir o próprio desconforto. é um teatro obrigatório onde a máscara de “boa convivência” escorrega perigosamente, mas nunca o suficiente pra alguém realmente dizer o que pensa.

e tudo isso – tudo isso – pra quê? pra no dia 25 você perceber que comprou coisas demais, comeu coisas demais e ficou tempo demais perto de pessoas que só tolera porque é socialmente esperado. mas o verdadeiro espetáculo é o que acontece antes, quando todo mundo se perde numa loucura desnecessária, como se o fim do ano fosse um teste de resistência mental e não um simples calendário virando página. e o pior? todos nós fingimos que isso é normal.

sabe o que deveria acontecer? um lockdown natalino. um grande “fica em casa, por favor, e pare de ser insuportável”. fecha tudo: shoppings, mercados, até os aplicativos de delivery, só pra ver o mundo entrar em colapso porque não tem mais como comprar panetone gourmet ou aquela garrafa de vinho caríssima que ninguém sabe pronunciar o nome. imagina a paz: ruas vazias, silêncio absoluto, e ninguém tentando te empurrar no corredor do supermercado pra pegar o último pacote de castanhas. seria o verdadeiro espírito natalino.

mas, claro, isso nunca vai acontecer. porque as pessoas precisam do caos, elas se alimentam dele. então, se você quer fugir dessa insanidade, a saída é ser estratégico. primeiro, pare de fingir que precisa participar de tudo. tem um convite pra festa da firma? ignore. eles vão sobreviver sem você fingindo que gosta daquele colega que mastiga alto. compras de última hora? esqueça. ninguém vai morrer se não ganhar aquele presente genérico comprado no impulso.

quer saber? suma. desapareça. invente uma viagem pra um lugar fictício – “ah, vou pra uma ilha no pacífico, sabe como é, sem sinal de celular” – e passe o mês inteiro ignorando mensagens e convites passivo-agressivos. ou fique em casa e cultive a arte de não fazer nada, um luxo que deveria ser obrigatório em dezembro.

e, se ainda assim alguém insistir pra você “entrar no clima”, olhe nos olhos dessa pessoa e diga: “o clima já está insuportável, obrigado”. e vá embora. porque a única maneira de sobreviver ao fim do ano com a sanidade intacta é não se deixar arrastar pelo tsunami de loucura coletiva. fique parado. veja o mundo passar correndo. e, quando tudo acabar, dê aquele sorriso satisfeito de quem passou por dezembro sem entrar no ringue com uma sacola de compras na mão.