
o natal é, pra mim, um daqueles poucos momentos em que o mundo dá uma pausa. não uma pausa real – porque, convenhamos, sempre tem alguém gritando no shopping por causa de um presente ou tentando estacionar no meio do caos – mas uma pausa no jeito como a gente finge não se importar. no natal, por mais torto que seja, as pessoas tentam. tentam estar juntas, tentam ser gentis, tentam fazer algo parecer significativo, nem que seja por um dia.
gosto do natal porque ele não precisa de perfeição. é bagunçado, exagerado, um pouco piegas, e é exatamente isso que o faz funcionar. a luzinha pisca sem ritmo? tá ótimo. o peru tá seco? passa a farofa e segue em frente. o presente não foi bem o que você queria? abraça e diz “obrigado”. no natal, o esforço vale mais que o resultado. é como um jantar feito na pressa que, no final, ainda consegue juntar todo mundo na mesa. meio torto, mas cheio de coração.
e vamos falar a verdade: tem algo de brilhante no ritual. aquela sensação agridoce de abrir uma garrafa de vinho enquanto alguém tenta lembrar onde guardaram o abridor. as crianças correndo pela sala, rasgando papel de presente como se fosse uma competição olímpica. a música natalina tocando de fundo, mesmo que ninguém preste atenção. tudo isso cria uma espécie de microcosmo da humanidade: desorganizado, barulhento, mas, de algum jeito, funcional.
gosto porque o natal não é sobre o que está na mesa ou debaixo da árvore. é sobre o que está ao redor. é sobre as risadas, as histórias mal contadas, as pequenas reconciliações que só o vinho pode facilitar. e, pra mim, isso é mais do que suficiente. o natal é um lembrete de que, no meio de todo o barulho do mundo, ainda conseguimos parar por um segundo e lembrar que não estamos sozinhos. e, cá entre nós, isso já é um baita presente.