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2024

omelete

a forma como alguém faz um omelete não é apenas reveladora; é um raio-x completo da alma humana, um teste definitivo de caráter, habilidades sociais e, muitas vezes, sanidade mental. é o equivalente culinário de colocar a pessoa em um tribunal e pedir para que prove sua humanidade diante de um júri implacável – os ovos.

e antes que alguém venha com aquele papo de “é só um omelete, relaxa”, deixa eu te parar aí mesmo. não, não é só um omelete. é um ato puro, primal. é uma das poucas coisas na cozinha que exige tanto habilidade quanto humildade. não dá pra mentir num omelete. não dá pra esconder a falta de jeito, de paciência, ou aquela personalidade irritante que sempre acha que “mais é mais” quando, na verdade, mais é só um desastre esperando pra acontecer.

veja bem, o omelete é a tela em branco onde pintamos quem somos. e para muitos, infelizmente, essa tela vira um rabisco confuso feito por uma criança descontrolada com giz de cera. vamos aos tipos: tem aquele que acha que “quanto mais recheio, melhor” e termina com uma aberração que mais parece uma pizza dobrada. sabe o que isso me diz? insegurança. um medo desesperado de que o básico nunca será suficiente. talvez na cozinha, talvez na vida inteira.

e o que falar do apressado? o sujeito que mete tudo no fogo alto, queima os ovos, transforma o que deveria ser uma seda dourada em algo que poderia ser usado como sola de sapato. esse aí é o rei dos impacientes. um verdadeiro herói do “não tenho tempo pra isso”, sempre correndo, sempre ocupado, mas nunca fazendo nada realmente bem. provavelmente é o tipo de pessoa que termina séries pela metade ou mente sobre ter lido “dom quixote”.

mas o meu favorito – ou talvez o mais desprezível – é o revolucionário do caos. aquele que, por preguiça ou completa falta de noção, transforma o omelete em uma pilha informe de ovos mexidos com pedaços de coisa aleatória. a desculpa? “é tudo a mesma coisa”. amigo, não, não é tudo a mesma coisa. se você não consegue respeitar o processo de dobrar um omelete, como eu vou confiar em você pra, sei lá, estacionar um carro ou manter uma conversa coerente? essas pessoas vivem no completo abandono das regras. elas não dobram o omelete, porque na verdade têm medo – medo de falhar, medo de tentar, medo da vida.

aí vem o outro extremo: o artista. aquele que domina a arte de um omelete clássico. dois ovos, manteiga na medida certa, uma pitada de sal, paciência absoluta. ele não exagera. não complica. deixa o fogo trabalhar, deixa a textura brilhar, dobra com precisão cirúrgica. esse é o tipo de pessoa que você quer do seu lado numa crise. calmo, confiante, eficiente. fazer um bom omelete é, acima de tudo, uma questão de controle. e quem controla um omelete controla o mundo. ou pelo menos, deveria.

no final, um omelete não é só um prato. é um espelho. um confessionário. um manual de instruções sobre quem você realmente é. e o melhor de tudo? não dá pra mentir pros ovos. você pode posar de sofisticado, elegante ou prático, mas na frigideira, a verdade sempre vem à tona. e, pra muitos, essa verdade é bem feia.