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2024

minha bagagem

fazer uma mala pra duas semanas de trabalho no inverno de nova york é um ato de rebeldia contra o excesso e, ao mesmo tempo, uma declaração de estilo. é separar quem entende o jogo de quem acha que viajar é carregar a casa nas costas. mala grande? erro de principiante. mala despachada? suicídio logístico. se você não consegue sobreviver com uma mala de mão, você não está pronto pra nova york – ou pra vida.

nova york não espera por ninguém, e o frio também não. ele não quer saber se você trouxe três cachecóis ou a sua coleção de suéteres pastel. ele vai atacar e te pegar despreparado, especialmente se você estiver carregando tanto peso que parece estar filmando um episódio de sobrevivência no ártico. pra mim, é simples: eu desço do avião leve, rápido e preparado. enquanto a multidão ainda tá no corredor lutando com o compartimento de bagagem ou lamentando a mala perdida, eu já estou no táxi.

1. a bota – a fiel escudeira

tênis no inverno de nova york é igual guarda-chuva barato: uma traição esperando pra acontecer. a minha bota de couro? surrada, impermeável, feita pra encarar neve, poças de água que você preferia nunca ter pisado, e até aquele bar duvidoso onde o chão gruda. ela vai no meu pé no avião, porque usar um espaço precioso na mala pra algo tão vital é o tipo de erro que só quem despacha bagagem cometeria.

2. segunda pele – a diferença entre você e um cadáver congelado

duas boas camadas térmicas, porque o frio de nova york não é só frio. ele entra por baixo da sua roupa, passa pela sua dignidade e se instala na sua alma. a segunda pele é o seu escudo. uma pra usar, outra pra quando a primeira estiver gritando por socorro. e, não, aquela camiseta velha de algodão não serve.

3. o casaco que aguenta tudo

esse é o seu tanque de guerra. preto, cinza ou qualquer cor que não grite “eu sou um turista perdido, me enganem”. ele enfrenta ventos glaciais, mantém sua aparência respeitável, e vai da rua pra sala de reuniões sem pedir desculpas. algo que você usaria tanto pra atravessar o brooklyn bridge quanto pra pedir um bourbon num bar do west village.

4. uma camisa que diz “eu sei o que estou fazendo”

preta ou azul escura, porque cores berrantes são pros otimistas – e ninguém com otimismo sobrevive ao inverno nova-iorquino. essa camisa é sua arma secreta: perfeita pra reuniões, jantares ou fingir que você tem sua vida sob controle, mesmo que esteja há 48 horas sem dormir.

5. quatro camisetas pretas – o uniforme do sobrevivente

preto é a cor oficial de quem não tem tempo pra besteiras. não amassa, não denuncia manchas, e faz você parecer mais interessante do que realmente é. essas camisetas me levam de uma reunião entediante a um bar clandestino no brooklyn, sempre com a mesma eficiência.

6. duas calças – porque é o suficiente pra qualquer pessoa normal

uma jeans escura, porque vai do trabalho ao happy hour sem levantar suspeitas. e uma calça térmica ou cargo, porque enfrentar o frio sem funcionalidade é coisa de quem quer sofrer. mais do que duas calças? desculpa, mas você não tá viajando, tá se mudando.

7. gorro e luvas – ou aceite o sofrimento

o gorro salva seu cérebro de virar um bloco de gelo, e as luvas são a única coisa entre seus dedos e o desespero absoluto. e não, você não é “forte” por tentar encarar o frio sem eles; você só parece mal preparado.

8. roupas íntimas: o cálculo matemático da decência

uma por dia menos dois. confie em mim, lavar roupa no meio da viagem não é um ato de desespero, é eficiência pura. meias? térmicas. ruins? só se você quer transformar seus pés numa história triste.

9. eletrônicos: o kit básico da sobrevivência moderna

celular, carregador, e bons fones de ouvido. nada de fones que vieram de brinde com seu último celular, pelo amor de tudo que é sagrado. laptop, porque você está trabalhando. mas, sério, se você está pensando em levar um console de videogame, eu só tenho uma pergunta: por quê?

10. necessaire compacta, mas imbatível

escova de dente, pasta, desodorante e creme pras mãos, porque o frio destrói tudo – até sua dignidade. perfume pequeno, porque ninguém quer ser o colega que cheira a café velho e cansaço acumulado. shampoo e sabonete? hotel tem, e se não tiver, vá ao mercado mais próximo.

11. sair do avião como se fosse uma operação militar

essa é a parte onde você ganha. enquanto o resto do voo ainda tá lutando com bagagem de mão entupida e caras de frustração, eu já estou no corredor, indo em direção à saída. e enquanto os perdedores estão na esteira de bagagens, olhando com tristeza pro vazio, eu já tô no táxi, tomando um café quente e pronto pra encarar a cidade.

tudo cabe numa mala pequena. porque viajar é sobre eficiência, não excesso. e quem carrega mais do que o necessário está carregando seus medos, suas inseguranças, e, provavelmente, um suéter horrível que nunca vai usar. nova york não tem tempo pra isso, e eu também não.