Categorias
2024

o que aconteceu com o jornalismo?

o que aconteceu com as notícias? sério, me expliquem. porque o que as notícias costumavam ser, e aqui estou me referindo à era pré-internet, quando jornalistas ainda cheiravam a tinta de impressão e tinham orgulho de chamar o que faziam de “informação”, era direto, sem baboseira, sem floreios literários. algo aconteceu, algo explodiu, algo desabou, e lá estavam os fatos, entregues como um chute nos dentes. você não tinha que mastigar três parágrafos de poesia barata sobre o vento soprando no deserto antes de finalmente chegar ao que realmente importava: uma bomba explodiu. pessoas morreram. ponto final. mas agora? agora somos tratados como idiotas sentimentais que precisam de uma introdução melosa para digerir o óbvio.

quer um exemplo? pegue qualquer artigo do new york times. eu desafio você. cada história começa com uma cena cinematográfica. “em uma estrada rochosa no afeganistão, enquanto o sol cruel perfurava o horizonte…” ah, por favor. eu não ligo para o sol. me diga logo: o que aconteceu? uma bomba, certo? porque é disso que estamos falando. a bomba é a notícia. o resto? o resto é um teatro literário para um público que aparentemente não tem capacidade de lidar com fatos crus. e antes que você diga: “ah, mas as pessoas querem contexto”, vamos ser honestos. as pessoas não querem contexto. elas querem drama. querem um parágrafo que as faça sentir como se estivessem lá, com a poeira nos olhos e o cheiro de pólvora nas narinas. porque só o fato? só o fato não vende.

e aqui vem o soco no estômago: ninguém mais está interessado em fatos. fatos são entediantes. sabe o que vende? opiniões. não importa de quem. qualquer imbecil com um microfone ou uma conta no twitter pode dar sua opinião, e as pessoas vão comer aquilo como se fosse caviar. ligue a tv. vá em frente. o que você vai ver? uma fila interminável de “especialistas” debatendo, gritando, te dizendo o que você deve pensar. porque é isso que a maioria quer: um script para repetir como papagaio no próximo jantar em família. e aí você percebe que notícias, aquelas de verdade, imparciais, morreram. e nem tiveram direito a um obituário.

e quer saber o que mais me deixa com raiva? o falso engajamento. porque agora, além de vomitar opiniões em vez de fatos, os jornalistas querem saber o que você pensa. “nos diga sua opinião!” eles dizem. “aqui está nosso twitter! nos diga o que você acha!” sério? eu? o que diabos isso importa? não é pra isso que vocês estão aqui? vocês, os jornalistas, são pagos para investigar, para reportar, para trazer algo com substância. mas não, agora vocês querem minha opinião, como se isso fosse um reality show onde o público tem que votar. e sabe o que mais? a maior parte das pessoas não tem uma opinião. elas têm reflexos condicionados, regurgitando o que ouviram cinco minutos atrás naquele mesmo programa.

é patético. o que costumava ser um serviço público virou uma vitrine de egos, uma disputa de quem grita mais alto, um concurso de beleza intelectual. quer se informar? boa sorte. você vai ter que peneirar toneladas de lixo opinativo até encontrar um único fato, enterrado lá no meio, como uma relíquia arqueológica. na dúvida, vá direto para os obituários. pelo menos lá você ainda encontra a verdade: alguém morreu. não há como torcer isso em um debate. ainda.