
“uma mera criança.” ah, como eu amo esse termo. essa condescendência casual, essa superioridade mal disfarçada. como se a presença de uma criança fosse algo a ser tolerado, um inconveniente passageiro. deixe-me dizer uma coisa: se existe algo mais insuportável do que a ideia de “uma mera criança”, é um mero adulto. sabe do que estou falando. aquele ser humano cansado, previsível e lamentavelmente entediante. porque, ao contrário de uma criança, honesta, direta, e deliciosamente cruel, o adulto é um mestre da arte do fingimento. sorrisos falsos, opiniões recicladas, egos frágeis escondidos atrás de títulos e currículos. deus me livre.
crianças, por outro lado, são um espetáculo. caóticas? absolutamente. barulhentas? sem dúvida. mas pelo menos elas vivem sem medo de serem elas mesmas. uma criança vai olhar para você e dizer que seu cabelo está ridículo. vai perguntar por que você está sempre tão cansado ou por que sua comida “cheira estranho”. e sabe o que é isso? verdade. crua, direta, libertadora. enquanto isso, um adulto provavelmente diria algo do tipo: “uau, você parece… bem!”, o que, traduzindo, significa: “você está um desastre ambulante, mas eu não tenho coragem de admitir.”
a companhia de uma criança tem algo de purificante, como um banho gelado depois de horas no calor sufocante da mediocridade adulta. as perguntas delas, por mais absurdas que pareçam, têm mais profundidade e curiosidade genuína do que qualquer conversa que já tive em um coquetel corporativo. “por que o céu é azul?”, “os peixes dormem?”, “você acredita em dinossauros?”, são perguntas de quem ainda não desistiu de questionar o mundo. agora compare isso com um adulto, que provavelmente vai querer te contar sobre o novo regime de low carb que ele está seguindo ou como ele finalmente encontrou a cafeteira perfeita. me mate agora, por favor.
então, quando alguém tenta desdenhar, soltando um “é só uma mera criança”, tudo que consigo pensar é: e você, adulto? o que exatamente você está trazendo para a mesa? um arsenal de clichês, inseguranças e papos furados? por favor. se me derem a escolha entre a brutalidade sincera de uma criança e o peso morto emocional de um adulto, vou escolher a criança. todos os dias. sem hesitar.