
o mundo enlouqueceu. e não foi aos poucos, não. não teve aviso, não teve gradualismo. um dia acordamos e tudo ao nosso redor era um imenso hospício sem supervisão médica. as pessoas gritam, berram, digitam em letras garrafais, passam o dia indignadas com algo que viram em um vídeo de 15 segundos, conspiram, ameaçam, perdem amizades por conta de políticos que nem sabem que elas existem. cada esquina, cada feed de rede social, cada mesa de bar se tornou uma trincheira. todos têm uma opinião. e, pior, todos têm certeza absoluta de que estão certos.
sabe o que acontece quando todo mundo tem certeza? ninguém ouve ninguém. e aí estamos nós, num grande jogo de “quem berra mais alto”, onde o prêmio é absolutamente nada além de uma úlcera e um ódio irracional por pessoas que, na prática, são tão perdidas quanto você.
então me diz: qual é a alternativa? entrar nessa guerra insana? se transformar num desses bonecos histéricos que acordam já prontos para brigar? virar um papagaio de meia dúzia de frases prontas que você nem sabe se acredita de verdade? ou, e aqui está a única escolha que faz sentido, dizer “foda-se” e ser um tolo?
ser um tolo, hoje, não é mais só um ato de rebeldia. é um mecanismo de defesa. porque se você não for um tolo, se não rir da loucura, se não se jogar no caos com um mínimo de desprendimento, você vai ser engolido por essa máquina de insanidade coletiva. vai virar mais um zumbi amargurado, vagando por aí de cara fechada, pronto para tretar com qualquer um que ouse discordar de você.
e eu? prefiro estar do lado de fora. prefiro errar, tropeçar, provar comidas estranhas, rir de piadas inapropriadas, beber com desconhecidos, me perder em cidades onde ninguém sabe meu nome. prefiro ser alguém que, no meio desse apocalipse de gente raivosa e polarizada, ainda consegue se divertir.
porque olha ao seu redor: todo mundo está cansado. todo mundo parece exausto de existir. tem gente que passa horas brigando na internet por coisas que não mudam nada, enquanto a vida real acontece lá fora, desperdiçada. tem gente que acorda, abre o celular e já começa a responder ofensas, como se estivesse num campo de batalha imaginário onde “ganhar a discussão” fosse um troféu digno de orgulho. e no fim? no fim, ninguém convence ninguém de porra nenhuma. só sobra um rastro de frustração e ressentimento.
então, vou te dizer: seja um tolo. o mundo está queimando, e a melhor coisa que você pode fazer é dançar em volta da fogueira, rir alto demais, gastar seu tempo com prazeres genuínos em vez de preocupações fabricadas. coma o que te der vontade sem consultar tabela nutricional, fale besteira sem medo de cancelamento, experimente viver sem pedir permissão.
e enquanto esses guerreiros do teclado passam os dias e as noites cuspindo ódio, convencidos de que estão travando uma guerra nobre, o que realmente acontece? a vida segue. indiferente. enquanto eles discutem a validade de opiniões irrelevantes, o tempo escorre pelos dedos como areia numa ampulheta furada. e, quando finalmente perceberem, será tarde demais. terão passado uma vida inteira construindo trincheiras imaginárias, colecionando desafetos que nunca conhecerão pessoalmente, vencendo batalhas que ninguém nunca reconheceu.
e aí vem a grande pergunta: e você? vai se juntar ao coro dos desesperados ou vai rir na cara desse caos todo? vai passar seus dias planejando respostas afiadas para discussões inúteis ou vai encher o copo, brindar ao absurdo e seguir em frente? porque, sejamos honestos, nada disso faz sentido. sempre estivemos à beira do colapso, só que agora temos wi-fi para transmitir tudo ao vivo. então, a única escolha racional é ser irracional. é ser um tolo.
ser um tolo significa recusar essa falsa seriedade, essa pretensão de que tudo precisa ser profundo, relevante, impactante. não precisa. às vezes, tudo que você precisa é de um sanduíche absurdamente gorduroso às três da manhã.
ninguém lembra do dia em que fez tudo certo. ninguém conta com entusiasmo sobre aquela noite em que foi dormir cedo e acordou revigorado para um dia produtivo. ninguém dá risada relembrando a vez em que evitou riscos e tomou todas as decisões certas. as histórias que valem a pena são as que envolvem caos, erro, surpresa. aquela vez que tudo deu errado e, de alguma forma, deu certo. aquele situação inesperada que mudou sua rota. aquela aposta idiota que rendeu uma lembrança inesquecível.
então, sim, o mundo enlouqueceu. mas ele sempre foi louco. a diferença é que agora a insanidade é transmitida em alta definição para qualquer um assistir. e, já que não há escapatória, só resta a decisão: você vai se perder nesse teatro de horrores ou vai abrir outra cerveja e aproveitar o show? você vai entrar de cabeça na histeria ou vai ser um tolo glorioso, abraçando o erro, o improviso, o prazer momentâneo?
eu já fiz minha escolha. e garanto: ser um tolo é o único caminho que ainda faz sentido.