
não sou antissocial. não sou um monge recluso vivendo no topo de uma montanha, recusando contato humano e comendo raízes. gosto de gente, pelo menos de alguns espécimes específicos. sou vibracionalmente seletivo, o que é uma forma educada de dizer que certas pessoas simplesmente fazem meu sistema nervoso querer puxar o plugue e reiniciar. e percebo isso da maneira mais brutal possível quando aceito ir a eventos e palestras, porque é lá que o grande zoológico da energia humana se revela em toda a sua glória caótica.
tudo começa bem. chego disposto, mente aberta, pronto para interagir. mas assim que atravesso a porta, meu corpo inteiro já começa a captar sinais invisíveis. microvibrações. frequências. tem gente que entra num ambiente e a energia muda… e não de um jeito positivo. o ar fica mais denso, a atmosfera carregada, como se umidade mental estivesse se acumulando nas paredes. são aqueles cuja presença suga vitalidade, os buracos negros energéticos. você pode não estar nem falando com eles, mas já sente um cansaço inexplicável, um peso invisível. e pensa: “por que diabos eu vim?”
aí tem os outros, os histéricos vibracionais. gente que opera numa frequência tão alta e frenética que parece um alarme de carro disparado sem motivo. chegam falando alto demais, rindo demais, movendo-se rápido demais, como se fossem foguetes desgovernados prestes a colidir. energia dispersa, sem foco, sem direção. interagir com eles é como tentar tomar um café tranquilo numa cafeteria enquanto um furacão de quinta categoria arrasta mesas e cadeiras ao seu redor. você não está conversando com eles. está sobrevivendo a eles.
e, claro, há os que não têm energia nenhuma. mortos vivos sociais. gente que está ali, mas cuja presença é tão fraca, tão ausente, que chega a ser perturbadora. trocam algumas palavras com você e, em minutos, sente como se estivesse conversando com um fantasma, não porque sejam misteriosos ou profundos, mas porque simplesmente não têm nenhuma vibração detectável. são o equivalente humano de um pão de forma amanhecido.
e então eu percebo. percebo que não sou eu. não sou deslocado, não sou antissocial. sou apenas alguém cujo radar vibracional está bem calibrado, e que aprendeu a respeitar quando algo não bate certo. porque energia não mente. palavras mentem, sorrisos mentem, intenções mentem, mas a vibração de uma pessoa é um atestado de autenticidade ou um aviso de perigo iminente. e se minha frequência não encaixa, eu não forço. não por arrogância, não por prepotência, mas por pura questão de sobrevivência mental.
mas então, no meio desse caos vibracional, no meio dos vampiros de energia, dos histéricos de plantão e dos mortos-vivos emocionais, às vezes, só às vezes, acontece um milagre. você sente. antes mesmo de ver, antes mesmo de ouvir, você sente. uma mudança sutil no ar. uma frequência que não agride, que não suga, que não pesa. uma energia que se move como uma brisa fresca depois de um dia abafado e pegajoso.
essas são as pessoas que me fazem lembrar por que, afinal, eu ainda me dou ao trabalho de sair de casa.
elas não chegam atropelando o ambiente com um frenesi de ansiedade mal resolvida, nem se fazem de coitadinhas, sugando sua paciência como se fosse um tanque de gasolina. elas têm presença. não aquela presença forçada, calculada, ensaiada no espelho para impressionar. mas uma presença que vem de dentro, da segurança de ser quem são, sem precisar gritar isso para o mundo a cada cinco minutos.
não há aquela pressa insuportável de falar a próxima coisa, de preencher cada espaço com barulho. o silêncio não é constrangedor, é confortável. não há disputa, não há jogo, não há aquela luta invisível para ver quem tem a última palavra. há espaço. espaço para ser. para existir. para trocar.
e não importa o assunto. pode ser sobre viagens, comida, cinema, filosofia, ou simplesmente sobre o café que estão bebendo. porque não é o que se fala, é o que se sente. a energia dessas pessoas é nutritiva. você sai da conversa melhor do que entrou.
e é por isso que sou vibracionalmente seletivo. porque já provei o gosto de interações reais, autênticas, carregadas de presença e verdade. e depois disso, fica impossível aceitar menos. não se trata de esnobismo, nem de arrogância, nem de se achar superior. trata-se de saber a diferença entre alimentar a alma e apenas matar o tempo.
e eu não tenho tempo a perder.