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2024

the fourth turning

se você está olhando ao redor e se perguntando “o que diabos está acontecendo com o mundo?”, parabéns, você está oficialmente desperto para o grande desastre cíclico da humanidade. e se quer uma resposta, aqui vai… estamos no meio de um fourth turning, o momento histórico onde tudo desmorona, as pessoas se dividem como torcidas organizadas e ninguém mais consegue concordar nem sobre o que é real.

não acredita? então preste atenção, esse caos não é um erro do sistema, é o sistema funcionando exatamente como sempre funcionou. william strauss e neil howe, no livro “the fourth turning”, explicam que a história não avança em linha reta, ela repete os mesmos quatro atos como um roteirista preguiçoso escrevendo a mesma série ruim toda temporada. cada ciclo dura de 80 a 100 anos e é dividido em quatro fases previsíveis. e, azar o seu, você nasceu no exato momento em que tudo começa a derreter.

primeiro: o high, a ilusão de que consertamos o mundo

o ciclo começa logo depois de uma grande crise, uma guerra, um colapso econômico, algo feio o bastante para traumatizar a humanidade inteira. as pessoas, cansadas de sofrer, decidem fingir que aprenderam a lição e constroem uma sociedade baseada na ordem, na estabilidade e na completa negação da realidade.

os anos 50 foram um exemplo perfeito. todo mundo feliz, sorrindo em comerciais preto e branco, comprando casas idênticas em subúrbios idênticos e acreditando que o governo, a igreja e os bancos estavam lá para protegê-los. as instituições estavam no auge, a sociedade parecia unida, e o futuro era brilhante. claro, ninguém falava sobre os podres escondidos debaixo do tapete, mas ei, pequenos detalhes.

segundo: o awakening, hora de jogar tudo no lixo

mas eis o problema, o high é chato pra cacete. e a geração que nasceu nesse período, criada com estabilidade, segurança e um senso absoluto de que o mundo sempre vai melhorar, começa a achar tudo um grande tédio sufocante. então eles fazem o que qualquer geração entediada faria… chutam o pau da barraca.

de repente, todas as regras do high são questionadas. religião? besteira. governo? corrupto. tradição? prisão disfarçada. o mundo vira um grande campo de batalha cultural, e o que era sólido começa a rachar. os anos 60 e 70 foram exatamente isso… protestos, revoluções sociais, questionamento da moralidade, e um monte de gente correndo pelada em festivais enquanto prometia mudar o mundo.

a ironia? eles acabaram se tornando exatamente aquilo que combateram. décadas depois, os mesmos rebeldes dos anos 60 estão aí, votando em candidatos conservadores e reclamando que a juventude de hoje em dia é “muito sensível”.

terceiro: o unraveling, o começo do fim

se o awakening foi a adolescência rebelde da sociedade, o unraveling é o momento em que o adulto percebe que a vida não tem sentido e desiste de fingir.

a confiança nas instituições desaba, as pessoas param de acreditar que há um futuro coletivo e todo mundo entra no modo “cada um por si”. os anos 80 e 90 foram puro unraveling, o neoliberalismo dominando o mundo, a política virando um show de horrores, os governos sendo gerenciados como empresas (e tão mal quanto), e as pessoas mergulhando no consumismo como se pudessem comprar felicidade parcelada em 12x sem juros.

é nesse período que começamos a ver o caos chegando, mas ainda dá para ignorá-lo. ninguém acredita que o mundo pode realmente desabar. as pessoas acham que “as instituições são ruins, mas pelo menos ainda existem”, que “a democracia pode estar em crise, mas ainda é forte”, que “as guerras são coisas do passado”, e outras ilusões otimistas.

e então, vem o tapa na cara.

quarto: o fourth turning, e agora fodeu

se você está vivo hoje, parabéns, você está no meio do grande colapso histórico do seu tempo.

a crise de 2008? O início do nosso fourth turning. de lá para cá, tivemos… instabilidade financeira, polarização política extrema, colapsos institucionais, guerras voltando a ser uma coisa comum, pandemias, teorias da conspiração dominando a cultura, e um nível de paranoia coletiva que faz os anos da guerra fria parecerem uma colônia de férias.

e ainda estamos só no meio do caminho. se os ciclos se repetirem (e até agora sempre se repetiram), ainda falta a grande crise final, o momento onde tudo se desfaz completamente e o mundo é forçado a se reinventar. pode ser uma guerra global, um colapso econômico total, uma revolução que ninguém viu chegando. o roteiro já está pronto, só falta descobrir qual desastre específico vai fechar essa temporada.

mas você pode estar confuso com essa história de ciclos, não é? acha que talvez isso seja só um papo furado e que o mundo está uma bagunça porque, sei lá, as redes sociais estragaram tudo ou porque a humanidade está ficando mais burra? beleza. então, vamos voltar no tempo e dar uma olhada em alguns outros fourth turnings. porque, amigo, se você acha que o nosso está ruim, deixa eu te contar: já estivemos nesse filme antes, e ele sempre termina com explosões, fogo e um bando de gente tentando reconstruir tudo do zero.

fourth turning #1: revolução gloriosa (1688-1704), quando a europa resolveu chutar a porta

você provavelmente nunca ouviu falar da revolução gloriosa, porque, sejamos honestos, a maioria das pessoas mal consegue lembrar o que comeu no café da manhã, muito menos um evento de 300 anos atrás. mas aqui vai a versão resumida… foi um grande “foda-se” para os reis absolutistas, e o começo da bagunça política moderna.

inglaterra, 1688. os ciclos estavam se repetindo direitinho, um período de estabilidade após a guerra civil, seguido por uma era de mudanças culturais e filosóficas (olá, iluminismo!), depois uma fase de desconfiança nas instituições. e aí, boom!!! um rei impopular, uma crise religiosa, e, de repente, os ingleses resolvem se livrar do monarca e botar outro no lugar, um que pelo menos fizesse o favor de não ser um lunático.

parece algo distante? troque “rei impopular” por “político ridículo”, “crise religiosa” por “polarização ideológica”…

fourth turning #2: revolução americana e francesa (1773-1794), o caos iluminado

avançamos um século e adivinha? outro fourth turning. os eua, ainda um projeto de colônia britânica, decidem que pagar imposto para um rei do outro lado do oceano não é um plano viável de longo prazo. começa uma guerra. um novo país nasce. “ah, agora vai dar certo”, pensam eles. (spoiler: não deu.)

do outro lado do atlântico, os franceses olham para os americanos e pensam: “ei, boa ideia, vamos tentar também”. só que, em vez de uma revolução minimamente organizada, eles entregam um espetáculo de cabeças rolando na guilhotina, enquanto a europa assiste horrorizada. quando o fourth turning chega, todo mundo perde a cabeça, algumas pessoas de forma mais literal que outras.

e antes que você diga “ah, mas isso foi há muito tempo, agora somos mais civilizados”, te pergunto: quantas pessoas você conhece que matariam um desafeto político se tivessem a chance e a certeza de impunidade? pois é. então segura essa régua moral aí.

fourth turning #3: guerra civil americana (1860-1865), quando os eua decidiram se matar por conta própria

vamos para o século XIX. os estados unidos estão crescendo, mas tem um problema… metade do país acha que pode continuar escravizando seres humanos, e a outra metade começa a achar isso meio inaceitável. as instituições falham, o governo se divide, os estados começam a ameaçar se separar e, antes que alguém consiga resolver as coisas de forma civilizada, estão todos enfiados até o pescoço em uma guerra sangrenta.

e olha que coincidência, antes da guerra, vieram as mesmas fases do ciclo de sempre. período de reconstrução pós-revolução? check. era de questionamento e mudança social? check. anos de crescente polarização e desconfiança? check. quarta fase? um mar de sangue e destruição.

e depois? reconstrução. um novo ciclo. novas instituições. novas promessas de que “isso nunca mais vai acontecer.” (spoiler: vai.)

fourth turning #4: grande depressão e segunda guerra mundial (1929-1945), o inferno na terra

ah, agora estamos chegando perto. a geração dos anos 1920 achava que tinha resolvido todos os problemas. a economia estava bombando, as cidades estavam crescendo, a tecnologia estava avançando. e então, bum!!! a bolsa de valores despenca, milhões de pessoas perdem tudo, os governos falham espetacularmente, e, antes que alguém consiga respirar, um austríaco com um bigode ridículo resolve que o melhor jeito de consertar as coisas é iniciar uma guerra global.

o mundo pega fogo. milhões morrem. cidades inteiras viram cinzas. governos são derrubados. a guerra termina, e um novo ciclo começa. os sobreviventes olham ao redor e pensam: “ok, dessa vez aprendemos. nunca mais deixaremos isso acontecer.”

(corte para 2024: estamos fazendo tudo de novo.)

então, e o nosso fourth turning?

desde 2008, estamos vendo os mesmos sinais que precederam todas as outras grandes crises da história: crise financeira, instituições falhando, aumento do extremismo, um sentimento geral de que as coisas não fazem mais sentido. pandemias, guerras, colapsos econômicos, tudo acontecendo exatamente como antes. e, se os padrões continuarem, ainda não chegamos no clímax.

e quer saber o pior? não tem como sair dessa. não existe atalho, não existe solução rápida, não existe “basta votar certo”. se estivermos realmente no meio de um fourth turning (e todos os indícios apontam que sim), então as coisas só vão piorar antes de melhorar.

e agora, o que fazer?

quer um conselho? pare de agir como se tudo fosse uma surpresa. a humanidade não está em crise… a humanidade É A CRISE. sempre foi. você pode espernear o quanto quiser, mas o ciclo não vai mudar só porque você acha injusto ter nascido na pior fase dele.

você pode até tentar “fazer sua parte”, como todo mundo gosta de dizer. mas sejamos honestos, ninguém realmente faz sua parte. as pessoas seguem discutindo política como se um tweet fosse salvar o mundo, postando textos indignados no linkedin enquanto acumulam mais gadgets desnecessários e, ocasionalmente, assistindo a um documentário para fingir que estão informadas.

mas ao final o que aprendemos com tudo isso?

1. a história sempre se repete. sempre. se você acha que sua geração é a primeira a enfrentar um mundo em colapso, parabéns pela ingenuidade.


2. ninguém nunca percebe que está no meio de um fourth turning até ser tarde demais. as pessoas sempre acham que “dessa vez é diferente”. não é.


3. as instituições não falham porque sim, elas falham porque fazem parte do ciclo. tudo que parece sólido um dia vira pó.


4. o futuro não vai ser gentil. se os padrões se repetirem, ainda temos mais uns dez anos de caos antes do próximo ciclo começar.


5. e o mais importante: todo mundo acha que vai sobreviver, mas historicamente… não é bem assim.

então, qual é a moral da história? simples… relaxe e aproveite o espetáculo. porque, quer você goste ou não, a roda já está girando, e a única coisa garantida é que, no final, alguém sempre sai quebrado.

e agora é a hora de escolher o seu lado, ou você aceita que está dentro de um loop histórico e se prepara para a próxima reviravolta, ou continua fingindo que o caos é uma anomalia e que um dia tudo “vai voltar ao normal”.

(só um aviso: não vai.)