
eu sempre pensei que ser pai seria sobre ensinar, sobre ser esse modelo que meu filho olhasse e falasse “uau, meu pai sabe tudo”. a ideia era aquela baboseira de passar o bastão da sabedoria de geração para geração, mas logo percebi que a única coisa que estou realmente ensinando é como consertar brinquedo quebrado. e, sejamos honestos, isso é uma lição valiosa na vida moderna. quem diria que minha verdadeira profissão não era ser mentor ou guia espiritual, mas sim mecânico de brinquedos em tempo integral?
meu dia começa não com um “bom dia, pai” ou “obrigado por existir”, mas com um grito de emergência: “pai, meu carrinho quebrou!” e ali estou eu, em plena missão de resgatar um pedaço de plástico da morte certa. sou chamado para desmontar, remendar, reconstruir, deitar no chão e vasculhar até achar a peça perdida. entre uma cola quente e um pedaço de fita adesiva, aprendo que ser pai não é sobre ser infalível, mas sobre ser flexível e sempre estar disposto a fazer o impossível para dar aquele “ah, valeu, pai” de quem ainda acredita em magia.
não são só os carrinhos, claro. tem legos, que me fazem questionar as leis da física a cada construção que desmorona. meu filho monta castelos que desafiam até os melhores engenheiros, e eu sou o arquiteto frustrado que, em algum ponto do processo, recebe a ordem de “reconstruir tudo”. não importa quantos milhões de peças estejam espalhadas, meu trabalho é dar um jeito. sempre dou. porque ser pai, afinal, é entender que os brinquedos quebram, mas a paciência e a perseverança devem ser restauradas.
e os bonecos, ah, os bonecos. são as estrelas do espetáculo. esses pequenos sobreviventes de inúmeras aventuras passam por cada tipo de trauma possível. braços arrancados, cabeças que não se encaixam mais… já me vi, inúmeras vezes, virando um cirurgião de plástico e tapeando com durepoxi. mas, no final, é sempre um sucesso. o que começa como um desastre termina como um novo herói para o meu filho, que, em sua visão de mundo, sou o melhor “consertador” que existe.
nada, porém, se compara ao caos dos brinquedos eletrônicos. um caminhão de bombeiro sem som? meu filho me olha como se eu fosse um técnico da NASA, e eu, sem saber como, tento ressuscitar o brinquedo com pilhas novas, apertando botões e rezando para o milagre acontecer. às vezes dá certo, às vezes não. mas não importa, porque o que aprendi é que ser pai é isso: improviso, paciência e a capacidade de resolver o impossível, com ou sem a tecnologia a nosso favor.
no fundo, a paternidade tem mais a ver com consertar do que ensinar. você repara brinquedos, corações e até suas próprias expectativas. mas, no final, meu filho me ensina mais sobre resiliência do que qualquer livro ou palestra sobre a vida. e, sim, vou continuar sendo o mecânico de brinquedos enquanto ele acredita que eu posso fazer qualquer coisa.