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2025

rotina de trabalho

sabe aquele experimento com ratos, onde eles colocam os pobres bichos numa rodinha e os fazem correr sem parar, convencidos de que estão indo para algum lugar? pois é. essa semana eu fui o rato. um rato metido a besta, é verdade, porque peguei uber em vez de me espremer no metrô como uma sardinha vencida. mas um rato, ainda assim.

uma hora de trânsito para ir. uma hora de trânsito para voltar. duas horas diárias de existência desperdiçada olhando pela janela enquanto a vida passa lá fora. e, entre essas duas horas de autoflagelação, um dia inteiro enfiado em um escritório, aquele ambiente estéril e artificial onde sonhos vão para morrer e PowerPoints nascem para nos assombrar.

lembro quando achava que isso era normal. quando achava que fazia parte do pacote “ser um adulto funcional”. acordar cedo, se enfiar em um caixão metálico sobre rodas, seguir o fluxo de corpos sonâmbulos rumo a um prédio de vidro onde todos fingem estar ocupados. reuniões sobre reuniões. planilhas que nunca morrem. café requentado e sem alma.

mas eu escapei disso há anos. e agora, por alguma piada cósmica, passei uma semana revivendo esse pesadelo. e sabe o que aprendi? que é ainda pior do que eu lembrava. que há uma espécie de resignação coletiva nesse teatro corporativo, uma aceitação silenciosa de que vender a alma em prestações diárias é só “o jeito que as coisas são”.

só que, veja bem, eu já quebrei esse feitiço. minha vida real é outra. minha vida real é atravessar a avenida paulista em quatro minutos para chegar ao trabalho. é levar meu filho para a escola a pé, sem precisar encarar um apocalipse motorizado. é não ter que calcular qual linha de metrô estará menos insuportável ou quantos minutos a mais vou passar no trânsito porque algum gênio decidiu bater o carro na marginal.

essa semana me fez lembrar que viver assim, atolado no deslocamento diário, não é viver. é uma experiência de quase-morte contínua. um looping de frustração e estagnação embalado por buzinas e notificações do whatsapp.

depois dessa semana, entendi perfeitamente por que as novas gerações enlouquecem os chefes, os RHs, os dinossauros do corporativismo. não é preguiça, falta de ambição ou “frescura de jovem mimado”. é só bom senso. porque você precisa estar muito condicionado… ou muito anestesiado, pra olhar pra essa rotina de trânsito, escritório, trânsito, repetição infinita, e achar que isso faz sentido. o problema não são eles. o problema é quem aceitou esse teatro por tanto tempo sem nunca perguntar… por que diabos estamos fazendo isso mesmo?