
olha, se tem uma coisa que o mundo aprendeu a fazer com maestria nos últimos anos foi servir tragédia no café da manhã, almoço e jantar e ainda te enfiar um lanchinho emocional de madruga só pra garantir aquele refluxo existencial. liga o celular e toma ali uma avalanche de morte, corrupção, colapso climático, adolescente rico que não sabe onde enfiar o dinheiro e políticos que parecem ter sido criados por um algoritmo bêbado tentando simular empatia humana. e você consome, claro. porque, sejamos honestos, a desgraça vicia. é pornografia emocional de alto nível.
a boa notícia? ah, essa ninguém quer ver. boas notícias são como legumes no prato de uma criança mimada… nutritivas, mas ignoradas com desgosto. tem alguém salvando uma floresta? dane-se. um cientista brasileiro isolou uma proteína que pode curar uma doença rara? chato. agora, se o vizinho chutou o cachorro ou se o influencer de yoga foi pego num esquema de pirâmide vendendo curso de autoconhecimento por R$ 1.997,00, aí sim a gente clica, comenta, compartilha, espuma de indignação. essa é a droga do momento. a tragédia vende. a esperança, coitada, tá na prateleira dos vencidos.
e olha que tem coisa boa pra caralho rolando por aí. só que ninguém quer saber de boas notícias porque, no fundo, elas exigem de você um mínimo de comprometimento. ver o lado bom do mundo é perigoso… te obriga a sair da posição confortável de cínico de sofá e admitir que talvez, só talvez, ainda exista uma chance. e aí, meu amigo, você teria que fazer alguma coisa com essa informação. ajudar alguém. se importar. agir. e quem é que tem tempo pra isso entre um episódio de série, uma thread de cancelamento e o novo filtro que deixa tua cara igual a de uma celebridade geneticamente aperfeiçoada?
a verdade nua e crua, e sim, ela fede um pouco… é que a gente vive num planeta onde tem gente curando câncer com inteligência artificial enquanto o resto da humanidade tá debatendo se a terra é plana ou se vacina tem chip. enquanto uma galera dedica a vida pra despoluir rios, outra tá despejando teorias da conspiração como se fossem figurinhas de álbum. é um contraste tão bizarro que faria um roteirista de sci-fi pedir demissão.
mas aí vem a parte que me deixa genuinamente intrigado… por que caralhos a gente insiste em viver como se tudo fosse um grande filme catástrofe com final garantido? será que a gente gosta tanto assim de ver o mundo arder? ou será que a gente só tá com preguiça de admitir que, apesar de tudo, ainda tem um monte de coisa dando certo?
tem criança aprendendo a ler em escola de chão batido com professor que ganha menos que entregador de aplicativo. tem cientista trabalhando 16 horas por dia num laboratório financiado por doações porque o governo cortou tudo. tem agricultor fazendo permacultura enquanto o vizinho ainda torra soja com agrotóxico nível chernobyl. tem enfermeiro que nem dorme direito cuidando de velhinho abandonado. mas isso não entra na pauta. porque não dá audiência. não gera rage.
então sim, o mundo tá fodido. mas não totalmente. ainda tem fagulhas. ainda tem resistência. o problema é que a gente virou um bando de zumbis dopados de pessimismo gourmet, alimentados por um banquete diário de desgraça plastificada e embalado com hashtags. e pra sair disso, meu chapa, vai ter que abrir o olho, desligar o inferno do algoritmo e encarar a verdade incômoda… o bem ainda existe. só não tá berrando no seu feed. tá lá fora, quieto, trabalhando, resistindo. só esperando você parar de olhar pro apocalipse e enxergar que ainda tem coisa viva nesse circo.