
ah, a música hoje em dia… eu sei, eu sei. tô virando exatamente aquilo que jurei destruir… o velho ranzinza sentado num bar escuro, murmurando num copo de uísque barato sobre como no meu tempo a música era de verdade. mas, honestamente? foda-se. alguém precisa dizer. e já que tá todo mundo ocupado fazendo dancinha no tiktok ao som de alguma aberração auditiva com autotune, que seja EU o maldito mensageiro do apocalipse sonoro.
sabe o que aconteceu com a música? ela morreu. foi enterrada sob uma avalanche de batidas recicladas, letras que parecem ter sido escritas por um algoritmo com déficit de atenção e artistas que são menos músicos e mais marionetes de marketing. hoje não se compõe uma música… se fabrica um produto. a única preocupação é se vai viralizar, se dá pra encaixar um refrão chiclete de 8 segundos que funcione como trilha sonora pra um vídeo de alguém rebolando em slow motion.
e antes que venham os defensores do “novo” com aquele papinho mole de “você só não entende a nova estética sonora contemporânea”, deixa eu deixar uma coisa clara… eu entendo. e é exatamente por isso que eu tô revoltado. porque eu vi o que era música. eu vi gente sangrar no estúdio, eu vi alma sendo rasgada em cada nota. vi artistas que pegavam uma guitarra ou um microfone como se fosse uma arma contra o sistema, não um acessório de instagram.
hoje? hoje temos boybands de laboratório, rappers que falam de ostentação como se fossem donos da nasa mas moram com a mãe, e cantoras que trocam de estilo musical a cada ciclo lunar só pra acompanhar o algoritmo. e as letras? meu deus. parece que todo mundo decidiu escrever como se tivesse acabado de sair de um workshop de slogans publicitários… curtos, genéricos, fáceis de digerir e imediatamente esquecíveis.
a música deixou de ser expressão pra virar decoração. trilha sonora de elevador emocional de uma geração que não aguenta silêncio, mas também não sabe o que é escutar. e olha, eu queria que fosse só nostalgia minha, só aquela coisa de velho gritando com nuvem. mas não é. é real. porque quando até os “artistas” parecem entediados com o próprio som, alguma coisa muito errada aconteceu.
sinto falta da sujeira. da imperfeição. da guitarra desafinada na gravação ao vivo. do grito rasgado que não foi corrigido no autotune. sinto falta de quando uma música podia mudar o mundo, ou pelo menos tua semana. hoje, no máximo, ela muda a coreografia da próxima trend de aplicativo.
então sim, virei o velho ranzinza. mas não é porque eu parei no tempo. é porque eu sei o que a música podia ser. e ver o que ela virou… dói. dói como ouvir aquela intro promissora que, no fim, deságua em mais um beat genérico com a profundidade emocional de um comercial de refrigerante.
mas quem sabe… talvez em algum porão abafado, com uma guitarra quebrada e um coração partido, alguém esteja escrevendo a próxima canção que vai fazer o mundo parar. até lá, eu vou estar aqui, no meu bar escuro, ranzinza, com meu copo, ouvindo coltrane e me recusando a dançar.