
por aí, espalhados feito barata em rodoviária, existe um exército invisível de sugadores de energia. não brilham no escuro, não flutuam, não têm capa. vestem roupas normais. falam baixo. têm emprego, usam emoticons e dizem “gratidão” no fim das mensagens. são inofensivos à primeira vista, mas deixa eles chegarem perto. é quando eles encostam, mesmo que só com um “como você tá?” que começa o roubo. não é sangue que eles querem. é a tua clareza. tua presença. tua porra de paz.
vampiro moderno não morde. ele comenta. ele se aproxima sorrindo e solta um “posso te contar uma coisa?”, como se fosse dividir uma receita de pão, mas na verdade é um container inteiro de angústia, ansiedade, inveja, drama e chorume emocional. e você, o babaca compreensivo, escuta. com a cabeça. com o fígado. com a alma. cada palavra entrando na tua mente como um balde de óleo velho.
tem os que sugam no silêncio. esses são refinados. não pedem nada, mas estão sempre ali, sugando só de existir. são âncoras com cara de afeto. você fica cinco minutos perto e já quer dormir pra sempre ou se matricular num retiro em algum buraco no tibet.
e tem os mais sofisticados, os que se fingem de sábios. parecem que vão te ensinar alguma coisa, mas na real só querem te desmontar com meia dúzia de frases vazias, disfarçadas de conselho. são os coachs emocionais do fracasso. se alimentam de dúvida alheia. vampiros com canudo de inox.
o mais perverso? eles são comuns. são amigos de infância. colegas de trabalho. vizinhos que mandam bom dia com figurinha. gente que parece ter vindo com manual de etiqueta, mas por dentro são pura sucção.
e a gente aprende a viver desviando. olhando no olho e fingindo que não viu o convite pro abismo. dizendo “não posso agora” como se estivesse ocupado com algo importante… tipo aprender a sobreviver sem ser drenado todos os dias por criaturas com cara de gente e alma de buraco negro.
se o mundo fosse justo, essas pessoas andariam com etiqueta de advertência…
contém alta voltagem de desgosto existencial, contato prolongado pode causar apatia crônica, cansaço inexplicável e vontade súbita de mudar de planeta.
mas não, elas vêm sem bula. sem filtro.
e a gente só percebe depois que já tá seco. seco e sorrindo, porque socialmente é feio dizer “vai embora, você me destrói”.
então eu digo por você… vai embora, você me destrói. e se voltar, traz algo de útil. tipo silêncio. ou um mapa pra um lugar onde ninguém fala da própria vida como se fosse tragédia grega de quarta categoria.