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2025

eu sou um idiota

não tenho medo de parecer um idiota. nunca tive. nunca quis não parecer. eu abraço esse título como quem encontra um velho amigo num bar imundo e o puxa pra beber até esquecer o próprio nome. ser idiota, parecer idiota, assumir o idiota que sou… tudo isso é a mesma coisa. é a minha forma de existir, de atravessar os dias com uma gargalhada estridente, desafiadora, desconfortável pra quem escuta, mas libertadora pra quem solta.

não tenho medo de ser o cara que fala demais, que tropeça nas próprias palavras, que tenta explicar uma ideia e se perde no meio da frase, que confunde nomes, que esquece aniversários, que faz perguntas óbvias e não vê problema algum nisso. não tenho medo de pagar mico, de errar feio, de ser visto como alguém que não entendeu. não tenho medo de admitir que não entendi, não tenho medo de pedir ajuda, não tenho medo de levantar a mão e dizer: “pera aí, o que caralhos está acontecendo?”.

não tenho medo de parecer idiota porque sei que esse é o espaço onde as coisas realmente acontecem, no improviso, no erro, no excesso, na fala atravessada, no gesto descoordenado. não tenho medo de me jogar sem rede, de andar sem mapa, de fazer sem saber. não tenho medo de ser visto como um desastrado, um impulsivo, um sem-noção porque, honestamente, eu sou mesmo tudo isso. e qual seria a alternativa? me conter? me polir? me reduzir a um catálogo de comportamentos aceitáveis, previsíveis, palatáveis? pra quê? pra quem?

não tenho medo de parecer idiota quando me entusiasmo demais, quando acredito demais, quando aposto tudo numa ideia que talvez não vá dar em nada. não tenho medo de ser aquele que se emociona, que chora, que ri alto, que se embriaga de vida até cair de joelhos, sem nenhuma elegância, sem nenhuma dignidade e sem nenhuma vergonha.

não tenho medo de ser visto como um idiota porque não sou movido por essa necessidade patética de parecer sempre seguro, sempre no controle, sempre dono de si. eu não sou dono de porra nenhuma. não controlo nada, nunca soube o que estava fazendo, nunca fiz questão de parecer que sabia. e isso é libertador. é isso que me permite estar onde estou, fazer o que faço, viver o que vivo.

não tenho medo de parecer um idiota quando tento coisas novas, quando entro em territórios desconhecidos, quando digo sim pra convites que sei que vão me colocar em situações desconfortáveis. não tenho medo de me perder. não tenho medo de errar o caminho, de pegar o trem errado, de sentar na mesa errada. não tenho medo de acumular cicatrizes, de somar fracassos, de contar histórias onde o herói não vence, mas tropeça, capota e ainda assim levanta, rindo, com o joelho ralado e o orgulho intacto.

não tenho medo de parecer idiota porque não carrego essa necessidade cretina de ser levado a sério o tempo todo. não sou uma marca pessoal, não sou um slogan, não sou uma porra de uma “persona” de rede social. sou só eu, atravessado, cheio de falhas, cheio de impulsos, cheio de momentos em que pareço, e sou, um idiota completo. e isso não me enfraquece. isso me torna mais forte, mais real, mais humano.

não tenho medo de parecer idiota quando me contradigo, quando digo uma coisa e depois faço outra, quando mudo de ideia, quando admito que estava errado. não tenho medo de parecer incoerente, exagerado, teatral, inapropriado. não tenho medo de ser o excesso, de ser o ruído, de ser o erro. não tenho medo de não caber no molde. não tenho medo de ser lembrado como aquele que nunca soube exatamente o que estava fazendo, mas fez mesmo assim.

não tenho medo de parecer um idiota porque o idiota vive. o idiota sente. o idiota tenta. o idiota cai. o idiota levanta. o idiota continua. e eu continuo. sempre continuo.

não tenho medo de parecer idiota porque, no fim, é só isso que somos, uma coleção de tentativas falhas, de erros grotescos, de histórias mal contadas, de impulsos que deram errado. não tenho medo de ser isso. eu sou isso. e, que alívio, que grande e maravilhoso alívio ser, sim, um idiota inteiro, orgulhoso, irremediável.