
eu já desisti, e nem foi com sofrimento… foi com aquele tipo de alívio sujo e silencioso que você sente quando percebe que o teatro acabou, que o palco tá pegando fogo e, sinceramente, foda-se… ninguém vai sair vivo mesmo. só sobra a plateia, olhando hipnotizada enquanto o circo corporativo arde. eu tô lá, no meio, dando risada, não porque sou mais forte, mais sábio ou mais equilibrado, mas porque não tenho mais estômago pra fingir que me importo.
assumir a loucura hoje não é um ato de coragem. coragem era em 1998, quando você podia largar tudo, comprar uma kombi e virar “artista”. hoje é só falta de vergonha na cara, e isso, meu amigo, minha amiga, é a única coisa que ainda vale alguma coisa nesse mundo saturado de gente fingindo que tá “construindo um legado”. que legado, porra? tu mal consegue construir um argumento decente numa reunião sem recorrer a um “vamos pensar fora da caixa”.
eu já parei de tentar parecer são quando percebi que o mundo virou esse lugar onde quem aparenta sanidade, na real, só tá muito bem treinado no fingimento. e olha que treino, hein? gente que acorda cedo pra correr, não porque gosta, mas porque leu que ceo faz isso, e depois posta…“5h, foco total”. foco total, uma ova. tá todo mundo ali, exausto, querendo que alguém simplesmente puxe a tomada e desligue essa máquina infernal que virou a rotina.
e você ainda me pergunta “como assumir minha loucura?”, como se não fosse óbvio que essa porra já te consumiu faz tempo. quer prova? abre teu histórico de pesquisa. “como ser mais produtivo”. “como evitar burnout”. “como parecer mais confiante”. parecer. nunca ser. sempre parecer. é isso que vocês fazem, gastam a pouca energia vital que resta tentando parecer algo que não são, pra pessoas que não se importam, num sistema que vai cuspir seus restos na primeira oportunidade.
assumir a loucura é só o primeiro passo de quem já entendeu que não vai ser o protagonista daquela narrativa heroica de superação, onde você, após anos de esforço silencioso, finalmente é reconhecido e promovido. não vai rolar, campeão. o que vai acontecer é que, no dia do seu aniversário, o rh vai te mandar um e-mail padrão e, se der sorte, talvez role um bolo de supermercado na copa. parabéns, mais um ano sendo sugado lentamente até virar só mais um crachá desligado.
e aí, nesse meio-tempo, você segue esse teatrinho, postando no linkedin sobre “propósito” e “colaboração”, marcando café virtual com aquele colega que você mal suporta, rindo de piadas sem graça em reunião, falando de “entregas” como se estivesse liderando a nasa. entregas, porra… tu tá fazendo planilha, não mandando foguete pra marte.
eu já larguei essa necessidade de parecer competente. já respondo e-mails com “beleza!” e um joinha, já entro nas reuniões sabendo que nada ali vai mudar o rumo da humanidade, já entendi que se o sistema cair e os arquivos sumirem, ninguém vai morrer, só vai ter menos relatórios que ninguém leria de qualquer forma.
assumir a loucura, no fundo, é só aceitar que esse show é grotesco, e que você pode rir dele, ou ser engolido por ele. pode ser aquele cara que diz “não aguento mais”, ou pode ser aquele que, mesmo odiando, ainda escreve textão motivacional e se inscreve em palestra sobre “soft skills”. a escolha é tua: ser o louco rindo ou o chato que aplaude enquanto se enforca com o próprio crachá.
eu escolhi rir. alto, debochado, insuportável. e quer saber? não me tornei um ser iluminado, não atingi nirvana, não virei referência em nada… mas, pelo menos, me livrei da ilusão de que precisava.
a loucura, essa sim, é a única coisa sincera que ainda te resta. assume logo, caralho. para de tentar ser “menos chato”. quer deixar de ser chato? então começa recusando a próxima reunião que claramente não precisa acontecer, para de comentar “arrasou!” no post de promoção de alguém que você secretamente odeia, e pare pelo amor de tudo que restou de honesto de usar “sinergia” em frase séria.
ser louco hoje não é ser rebelde, é ser lúcido. e lúcido, nesse contexto, é ser sarcástico, seco, afiado, um canalha elegante que vê esse espetáculo patético desmoronando e escolhe, conscientemente, não ajudar a segurar a estrutura.
assume tua loucura como quem bota o paletó de um terno que não serve mais: rasgado, apertado, desconfortável… mas é o que tem. e, mais importante: não pede desculpa. nunca pede desculpa.
porque, no final, quem ainda pede desculpa por ser louco… é só mais um chato com medo de admitir que o maior erro da vida foi ter tentado ser “normal”.
e você? vai pedir desculpa ou vai rir comigo enquanto o mundo pega fogo?