
acredite ou não e, sinceramente, espero que não acredite, porque acreditar seria admitir que perdeu tempo demais sendo o que nunca precisou ser, sou generosamente recompensado por ser exatamente quem sou. não esse “eu” domesticado, polido, convenientemente ajustado pra caber no feed, mas esse aqui que é cru, direto, indiferente ao esforço ridículo de parecer interessante.
não é sobre coragem. nunca foi. coragem exige intenção, e eu só sigo. sigo sem pedir desculpas, sem suavizar, sem essa preocupação doentia com a digestibilidade das palavras, como vocês gostam de chamar.
eu não dou a mínima. e não porque seja um projeto de vida, mas porque não sobra energia quando você entende o quão grotesca é essa encenação cotidiana que vocês transformaram em rotina. o aperto de mão calculado, a opinião moderada, a indignação programada, a alegria de catálogo.
é fascinante, admito. ver todo mundo correndo, se ajustando, competindo pra ser a versão mais estéril possível de si mesmo. lapidados até o tédio. funcionais até a irrelevância. todos obedientes, todos previsíveis, todos satisfeitos em serem apenas… parte.
eu sigo fora disso. não porque sou rebelde, rebeldia é só outro tipo de performance. sigo fora porque não me interessa participar de um jogo onde a vitória significa apenas ser o mais eficiente em apagar a si mesmo.
e talvez seja isso que incomoda. não que eu não jogue, mas que eu não queira nem assistir.
então, sim, acredite ou não, sigo aqui, intacto, não porque sou mais forte, mas porque tive a decência de não me submeter.
mas, e você? até quando vai seguir aí, ajustando, editando, limando, se curvando, se moldando pra ser aceito por quem mal nota que você está aí?
até quando vai insistir que vale a pena?
até quando vai fingir que não percebe que não é?
não precisa responder. nem agora, nem nunca.
mas vai pensar nisso. e, quando pensar, só espero que tenha estômago suficiente pra lidar com o que vai descobrir.
ou, quem sabe… pra, finalmente, parar.
se tiver coragem.