
design, pra mim, nunca foi ferramenta.
nunca foi “solução”.
nunca foi produto.
design, quando é de verdade, é desvio.
é rastro de pensamento bruto.
é ruído que escapa pela borda de uma ideia antes que ela fique bem comportada demais.
e eu aprendi isso não em curso nenhum, mas vendo o que me fazia parar.
cartaz de protesto com tipografia torta.
capas de disco que gritam sem pedir desculpa.
um lettering feito na pressa por alguém que não sabia as regras, e por isso acertou mais do que quem decorou todas.
design de verdade tem cheiro.
tem fricção.
tem ego.
tem dúvida.
e principalmente, tem coragem de existir sem tentar ser simpático.
essa coisa que chamam de bom design,
essa obsessão por equilíbrio, clareza, hierarquia visual, grade perfeita, alinhamento ótico,
tudo isso é bonito.
mas bonito é o que vem antes da emoção.
e eu não trabalho pra deixar bonito.
trabalho pra deixar incômodo.
eu me interesso por o que não encaixa.
pelo erro que virou estilo.
pela falha que virou assinatura.
por aquele projeto que o cliente odiou na primeira reunião, e não conseguiu parar de pensar depois.
sou formado por gente que nunca me deu aula.
por paula scher fazendo um logo que parece que grita com você.
por neville brody desenhando com raiva.
por david carson errando com método.
por massimo vignelli dizendo que só precisa de cinco fontes… e eu aqui, misturando 14 e achando lindo.
sou o que aprendi observando coisas que ninguém ensinava.
placas de rua. rótulos mal impressos. flyers de festa.
coisa feita com mais vontade do que permissão.
e por isso acredito, sem ironia nenhuma, que 1 + 1 = 1.000.000.
porque duas ideias não se somam.
se estranham.
se empurram.
se explodem.
e desse embate, se nasce alguma coisa que vale a pena, já não importa mais quem era 1 e quem era outro.
design não é matemática.
é alquimia.
é intuição vestida de vetor.
é acidente com direção.
é caos com elegância.
design não é o que aparece.
é o que permanece.
é o que fica depois do post.
depois do layout.
depois do pitch.
é o que vibra, o que provoca, o que desencaixa.
e se não vibrou, não provocou e encaixou fácil demais… então parabéns, você só fez mais um layout simpático.
mais um pdf que ninguém vai lembrar.
meu trabalho não é ser entendido.
é ser sentido.
nem sempre à primeira vista.
às vezes vem como incômodo.
às vezes como silêncio.
às vezes como aquele tipo de beleza que chega com delay, e quando chega, não sai mais.
design, pra mim, é isso.
um lugar onde o erro é parte do plano.
onde a lógica é uma sugestão.
onde estética é só a ponta de algo muito mais profundo…
uma ideia que, se não te moveu, era só enfeite.
e eu nunca fui do time do enfeite.