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2025

espaço, a fronteira final

sabe o que me fascina nessa palhaçada cósmica dos bilionários?
não é a tecnologia. não é a ciência.
é a cara de pau. a audácia intergaláctica de transformar o espaço, aquele último santuário do desconhecido, onde antes só pisava quem carregava nas costas o peso da humanidade, num parque temático de ego inflado, com foguetes pintados com batom corporativo e batizados com nomes que soam como senha de wi-fi de cafeteria chique.

o espaço, meu amigo, virou brinquedo de luxo pra esses três mosqueteiros da megalomania… bezos, musk e branson. um desfile de meias-calças espaciais, cápsulas fálicas e promessas de colonizar marte com gente que não consegue nem manter um fórum online sem virar rinha de bot.

e aí entra o cara que li hoje sobre. o cidadão que desembolsou 28 milhões de dólares pra passar sete minutos flutuando na blue origin. sete minutos de silêncio desconfortável ao lado de jeff bezos, o careca que olha pro espaço com a mesma empolgação que olha pra um relatório trimestral. sete minutos ouvindo aquele sorriso sem alma tentando soar humano enquanto você torce pra cápsula dar problema só pra ter uma história decente pra contar.

e se fosse eu com 28 milhões?
me dá só 8 deles. só oito. juro que faço render.

– com 3 milhões, eu criava uma fundação global chamada “fique por lá, jeff”, dedicada exclusivamente a garantir que o bezos e seus clones da techland nunca mais tenham que voltar pra terra. passagens só de ida, sem reembolso, com estadia vitalícia em órbita baixa e dieta de purê desidratado.

2 milhões iam pra subornar engenheiros do setor aeroespacial pra discretamente remover qualquer botão de “voltar pra casa” da cápsula do jeff. só o botão “play” com loop infinito de palestras dele sobre “resiliência no varejo digital”.

1 milhão pra comprar um pedaço de terreno no meio do nada, tipo interior da mongólia, e construir um museu do “narcisismo espacial” só fotos dos bilionários apontando pra estrelas com a legenda “aqui fica meu ego”.

– os últimos 2 milhões? simples. campanha internacional de marketing… outdoors, redes sociais, trailers antes de filmes da marvel, tudo com a frase “manda o bezos pra órbita e deixa ele lá”. com sorte, viraliza. com mais sorte ainda, o musk e o branson ficam com ciúmes entram na trend.

e falando neles…

o elon musk é o tony stark de filme b. o messias dos fóruns online, o homem que acredita piamente que vai salvar a humanidade enquanto xinga aleatoriamente jornalistas no twitter e toma decisões bilionárias com a maturidade emocional de um adolescente com déficit de atenção.
ele quer colonizar marte. MARTE. como se terraformar um planeta fosse algo que se resolve com um brainstorming e design thinking. ele quer uma civilização nova, só que com carros que explodem e wi-fi que cai toda vez que chove poeira marciana. e claro, só vai quem ele aprovar, porque pra esse tipo de salvador, a humanidade ideal é aquela que assina os termos de uso sem ler e compra ação da tesla até de cueca.

o elon não quer salvar o mundo. ele quer um novo playground onde ele seja deus, juiz, investidor-anjo e meme.
a terra tá dando trabalho demais. tem pobre demais, tem regra demais, tem gente demais dizendo “não”.
em marte, ele vai ser livre. livre pra criar uma utopia com as mesmas merdas daqui, só que com a gravidade aliviando o peso das consequências. e quem discordar? cancela o oxigênio.

e o branson? o branson é outra categoria.
não é o vilão clássico, é o guru do marketing de experiência. aquele que vende a viagem, a emoção, a sensação de transcendência… por um preço que só quem nunca lavou a própria roupa consegue pagar.
ele não quer colonizar planeta nenhum. ele quer vender o pôr do sol visto do espaço como se fosse ingresso de festival vip em ibiza. “suba até a estratosfera, sinta-se conectado com o universo, receba um certificado e um brunch orgânico flutuante com música ambiente”.

o branson é o tipo de cara que coloca som ambiente até no vácuo.
e se marte tivesse uma praia, ele já teria vendido cadeira com guarda-sol e mojito desidratado.
é o bilionário zen, o espiritualizado com jatinho particular, o que acredita que tudo pode ser resolvido com uma frase inspiradora bordada numa almofada flutuante. o espaço, pra ele, é um grande resort. e nós, os figurantes que não sabem o dress code.

esses três não estão indo pro espaço por nós.
estão indo por eles.
pra fugir do caos que ajudaram a criar. pra brincar de deuses em órbita enquanto a terra pega fogo, inunda, afunda e gira sem parar.

e se querem ir? ótimo.
só façam um favor… não voltem.
deixem a gente aqui, com nossos problemas reais, nossas frituras, nossos delírios honestos e nossa gravidade brutal.
porque por mais fodido que o planeta esteja… ainda prefiro ele sem vocês do que marte com buffet de gala e palestra motivacional às 6 da manhã.