
essa academia aqui… ah, essa aqui não é uma academia. é um showroom de vaidade com ar-condicionado e café de cápsula. é um palco mal iluminado onde os figurantes acham que são protagonistas de um reality show que ninguém pediu pra ver. não é o templo da saúde, é o bunker da performance social, o lugar onde gente sem assunto vem suar do lado de gente sem alma, tudo em nome de um lifestyle vazio com cheiro de desodorante caro e whey de baunilha sintética.
e não me venha com “ah, mas toda academia é assim”. não, não é. a academia ali do bairro, aquela com ventilador girando triste no teto e peso de cimento, é crua, honesta, até feia… mas é real. suor ali é suor mesmo. gente tentando viver mais, fugir do infarto, ajeitar a coluna depois de 30 anos carregando boleto. agora aqui? aqui não. aqui o suor é marketing. é parte do look.
a galera dessa academia não tá aqui pra treinar. tá aqui pra ser vista. pra fazer contato. pra marcar presença. pra gravar um reels mal editado enquanto faz um treino que viu no perfil de um coach que provavelmente não sabe somar dois pratos de 10kg. cada agachamento é pensado com ângulo de câmera. cada passada na esteira é uma tentativa de parecer ocupado, produtivo, desejável.
ninguém aqui respira… eles executam respiração.
ninguém alonga… eles otimizam mobilidade.
ninguém fala… eles pitcham ideias enquanto alongam o quadríceps.
e eu odeio.
odeio o neon soft-touch. odeio a playlist “motivation hits 2020” que toca em loop como se fosse trilha sonora da decadência moderna. odeio a parede instagramável com o letreiro em LED tipo. odeio as garrafinhas de R$ 300, o top cropped de marca sueca, o boné pra trás com o logo da consultoria. odeio o eco de frases como “vamos marcar algo” entre um supino e um ataque de futilidade aguda.
mas sabe o que é pior? eu volto.
todo santo dia. volto.
por quê?
porque essa desgraça fica a dois minutos da minha casa. dois. minutos.
e porque minha personal é a única coisa real nesse teatro de ego inflado. ela não me julga, não tenta me vender um e-book de detox, não fala “bora, guerreiro”. ela só manda eu puxar peso e calar a boca. uma santa. uma mártir. a última sobrevivente da era em que treinar era só isso… treinar.
então sim, eu continuo vindo.
entro nesse templo da futilidade, passo pelos influenciadores do fracasso, ignoro os olhares que avaliam meu pijama tênis, como se ele dissesse algo sobre minha relevância social… e treino. com desprezo. com ódio no coração e uma leve sensação sarcástica só de saber que sou o único ali que não quer fazer networking entre uma série e outra.
eu odeio essa academia.
e ela sabe disso.
e ainda assim me recebe todo dia com aquele cheiro de ego tostado no sol.
e isso, meu amigo e amiga, é quase arte.
arte degenerada, claro.
mas ainda assim… arte.
sarcasmo é o meu six-pack.