
tô com quinze abas abertas. todas elas me oferecendo o mesmo pedaço de pano vermelho ordinário, com um bordado preguiçoso da nasa… um boné que, se a gente for bem honesto, não valeria nem meia hora de atenção se o mundo fosse um lugar minimamente racional. mas adivinha? não é. nunca foi. e é por isso que eu tô aqui… um adulto, com boleto vencendo amanhã, cogitando pagar frete internacional e, com sorte, ser multado pela receita federal… tudo por causa de um acessório de figurino de um filme que quase ninguém viu, menos gente ainda entendeu, e que o resto do planeta fez questão de esquecer.
o nome do culpado? tomorrowland… um lugar onde nada é o que parece. dirigido pelo brad bird, o mesmo cara por trás de os incríveis e ratatouille, que aparentemente decidiu que depois de tanto sucesso comercial era hora de enterrar a própria carreira com um manifesto visual sobre otimismo juvenil e falência de espírito coletivo. o protagonista? george clooney, numa das atuações mais estranhas da carreira dele… o eterno galã agora fazendo o papel de um inventor misantropo, trancado numa casa armada com lasers e rancor. ao lado dele? uma menina chamada raffey cassidy, que rouba o filme inteiro sendo uma robô com cara de anjo e instinto de assassina. e claro… britt robertson, tentando desesperadamente carregar nas costas o peso emocional de um roteiro que tropeça na própria pretensão a cada cinco minutos.
o filme é um desastre. uma confusão de mensagens, com um terceiro ato que parece ter sido escrito num banheiro químico durante o intervalo de um festival de música. mas… e aí vem o grande porém… no meio de tudo isso, ele tem alma. aquela alma incômoda. aquela cutucada existencial que te faz olhar pra sua própria vida, pro seu cinismo de cafeteria hipster, pro seu sarcasmo de rede social… e se perguntar… quando foi que eu desisti? quando foi que eu virei esse babaca previsível que só sabe rir de tudo e não acredita mais em nada?
e aí… lá pelas tantas, entra o boné. aquele boné vermelho, com o logo da nasa estampado na testa como um tapa na cara de todo mundo que acha que sonhar é perda de tempo. ele aparece na cabeça da casey newton, a personagem da britt… uma adolescente teimosa, questionadora, otimista até o limite do suportável, que passa o filme inteiro dizendo que ainda dá tempo de salvar o mundo enquanto o resto da humanidade já tá de pijama esperando o apocalipse. o boné é parte do figurino dela… mas virou mais que isso. virou um símbolo.
um pedaço de pano que representa a última resistência emocional de quem ainda tem coragem de olhar pra frente e pensar: “porra, talvez… só talvez… ainda dê tempo.”
e é por isso que eu tô aqui. caçando, clicando, comparando. não é sobre moda, nem sobre cosplay. é sobre querer carregar na testa um lembrete físico de que eu, contra todas as evidências, ainda não virei mais um cínico acomodado de grupo de whatsapp. é sobre gritar, sem abrir a boca, que eu ainda me recuso a aceitar o final óbvio e previsível dessa história de merda que a gente chama de vida adulta.
quando esse boné chegar… e se chegar… ele vai estar amassado, com cheiro de armazenamento barato, com a costura torta… e eu vou usar assim mesmo. com orgulho. com teimosia. com a certeza absoluta de que, por mais ridículo que pareça… eu prefiro ser o idiota de boné vermelho da nasa do que mais um figurante nessa distopia insossa de sarcasmo e gente de cabeça baixa.