
eu acredito em tatuagem como quem acredita em fogo, porque é isso que ela é… fogo ancestral, ainda queimando, reinventado em agulha, tinta e cicatriz. cada traço, cada linha, cada ponto de dor é um elo com aqueles que vieram antes. não os dos livros de história, mas os verdadeiros… guerreiros, curandeiras, xamãs, piratas, escravos, punks, putas, todos os malditos que ousaram existir fora da norma e marcaram seus corpos como se a pele fosse altar, e era.
tatuagem é o grito dos que nunca pediram permissão. é a arte dos que escolheram o corpo como manifesto. é pintura de guerra numa sociedade que quer todo mundo limpo, polido e morto por dentro. e a gente não. a gente quer o oposto. a gente quer o sujo, o imperfeito, o autêntico. quer sangue, suor e alma misturados com tinta barata e dor que vicia.
porque tatuagem é isso, vício de verdade. quem faz uma, não para. porque descobre o segredo. descobre que a dor da agulha acorda coisas que estavam mortas. cada sessão é um batismo. cada risco é uma oração pagã. cada símbolo é um espelho que grita… “você ainda sente alguma coisa, porra!”
eu acredito em tatuagem porque ela nunca mente. o que tá na pele, tá na alma. é luto que virou arte. é amor que virou desenho. é fé que você não consegue explicar, mas precisa carregar. é a âncora no meio da tempestade. é o caos ordenado de um coração que se recusa a ficar quieto.
e não importa se você tatuou um símbolo tribal, uma caveira mexicana, um desenho tosco feito no fundo do quintal. o que importa é que você marcou. você se comprometeu com a sua própria existência. você teve a audácia de dizer “eu sou isso aqui, contraditório, intenso, suado, imperfeito, mas meu”.
tatuagem é um foda-se com alma. é arte viva em movimento. é identidade em alto-relevo. é história escrita em carne, uma língua que só os iniciados entendem. e quem entende… reconhece de longe. tatuado reconhece tatuado. é pacto silencioso. é irmandade de sobreviventes.
porque só quem já sangrou por escolha entende o valor de uma marca. só quem já sentiu a agulha entrando devagar, riscando memória na carne, entende que isso aqui é mais que moda. é legado.
então sim, eu acredito em tatuagem como quem acredita em mágica suja. porque é isso. alquimia punk. ritual moderno. e se não entende, tudo bem. não é pra entender mesmo. é pra sentir. é pra viver. é pra carregar…