
às vezes eu acordo e penso… em que momento a gente decidiu que precisava ter opinião sobre tudo? sério. quando foi que esse pacto silencioso se formou… esse acordo coletivo de que a gente não pode mais simplesmente olhar pra algo e dizer “não sei”, ou melhor ainda, “não tenho opinião formada sobre isso”? virou crime admitir ignorância. é quase uma ofensa pública você não saber o que pensa sobre a política de natalidade da dinamarca ou o preço da soja no mercado chinês.
eu vejo as pessoas falando… melhor, vomitando certezas e tenho vontade de puxar uma cadeira, acender um cigarro que nem fumo e perguntar com aquele ar de deboche bem afiado “porra, e de onde você tirou isso, campeão? foi no terceiro vídeo do tiktok ou no trecho de podcast que você ouviu no banheiro enquanto…?”
porque a real é essa. estamos rodeados por especialistas de banheiro. estudiosos de meia thread. filósofos de 15 segundos. todo mundo com uma opinião engatilhada, uma certeza absoluta na ponta da língua, mas se você cavar um milímetro abaixo da superfície, o que encontra é… nada. vazio. um abismo de ignorância ensaiada, enfeitada com hashtags e jargões reciclados de influencers com voz calma e roupa neutra.
eu tô cansado. cansado de tanta opinião e tão pouca curiosidade. cansado dessa necessidade desesperada de parecer inteligente. de ter sempre algo a dizer, mesmo que seja uma bobagem mal articulada com palavras emprestadas de alguém mais esperto.
me incluo nessa, claro. não vou posar de monge zen no topo da montanha. eu também já opinei mais do que devia. já caí na armadilha do ego inflado, do textão inflamado. mas ao menos eu tive a decência de reconhecer que, muitas vezes, eu estava falando merda.
hoje eu prefiro o silêncio. prefiro observar. prefiro admitir que não sei porra nenhuma sobre quase nada.
só que admitir isso exige coragem. e essa é uma moeda em extinção.
porque se você admite que não sabe, perde palco. perde público. perde curtidas, seguidores, relevância. e deus nos livre de sermos irrelevantes nessa era de selfies com legenda profunda e engajamento programado.
a verdade é que a gente tá todo mundo atuando. viramos personagens de nós mesmos. e pior… roteiros rasos. diálogos fracos. a série tá ruim e ninguém tem coragem de cancelar.
cada feed é um teatro. cada story é uma performance. a gente vive com medo de sumir, então fala, grita, opina, se impõe… mesmo que não saiba nem o que tá dizendo.
é como assistir uma peça onde todo mundo quer ser o protagonista, mas ninguém sabe o enredo.
e é aí que mora o desespero, essa urgência por parecer profundo enquanto flutua na superfície. um bando de náufragos com pose de navegadores.
então não, eu não vou engolir essa pose de intelectual instagramável. não vou fingir que essa avalanche de opiniões é sabedoria. é ruído. é excesso. é vaidade disfarçada de consciência.
e se você acha que ter opinião sobre tudo é ser inteligente, talvez precise de uma temporada no silêncio. ou num bar sujo de esquina. ou numa cozinha de verdade, com faca cega e suor escorrendo.
porque só aí, entre o calor, o caos e o desconforto, a gente começa a entender o que é profundidade.
até lá… bom apetite, especialista.