
por muito tempo eu me perguntei como ser mais produtivo como pai. parecia uma pergunta nobre, dessas que você fala alto numa roda de amigos pra parecer um ser humano elevado, iluminado, equilibrado. mas no fundo, lá no fundo, eu sabia que a única resposta honesta, crua, verdadeira mesmo era uma só… pra ser mais “produtivo” como pai eu teria que simplesmente negligenciar meu filho. é isso. simples, direto, sujo. e mais do que uma conclusão minha, é um fato histórico. a humanidade inteira construiu sua ideia de sucesso masculino em cima de homens que estavam sempre longe dos filhos. ou viajando, ou no trabalho, ou em guerra, ou no bar. o “pai exemplar” era, essencialmente, um cara que pagava as contas e aparecia uma vez ou outra com um brinquedo caro e um sorriso cansado.
só que hoje, eu não tenho orgulho nenhum disso. na real, quanto mais eu penso sobre isso, mais vergonha eu tenho de toda essa mitologia tosca do pai provedor, pai ausente, pai-herói de powerpoint. hoje, o que me dá orgulho não é o quanto eu produzo. é o quanto eu tô presente. o quanto eu tô ali, inteiro, colado, carne e osso e alma, pro meu filho de quatro anos.
eu faço o lanche dele. corto fruta, passo manteiga com a precisão de um cirurgião e o afeto de um monge zen. sirvo o almoço. escolho ingredientes, ajudo a cozinhar, provo, invento prato que nem nome tem. levo ele pra escola. e ouço ele falar sobre alienígenas, tubarões e sonhos malucos enquanto o mundo passa por fora da janela. converso com ele. olho no olho, respondo com palavras inteiras, sem “uhum” automáticos. brinco. de verdade. sento no chão, me sujo, entro no mundo dele como se eu também tivesse quatro anos. pego na escola. abraço forte, beijo na testa, mochila caída no ombro. raramente fico longe dele. e quando fico, falta um pedaço. parece que o dia perdeu o sabor.
isso não me fez mais produtivo. me fez mais humano. mais presente. mais real. e quer saber? foda-se a produtividade. foda-se essa ideia de que ser bom é render. não quero render. quero viver. quero estar ali, junto, dia após dia, vendo ele crescer, tropeçar, rir, perguntar coisa absurda. porque a verdade que ninguém quer admitir é que o tempo que você passa com seu filho nunca vai te dar uma promoção. nunca vai virar um troféu. nunca vai te deixar mais rico. mas vai te deixar completo. e isso, meu amigo e amiga, é o tipo de riqueza que ninguém te ensina a querer.
eu escolhi estar. todo dia. e não tem spreadsheet, kpi ou guru de terno slim fit que vai me fazer voltar atrás. meu filho tem quatro anos. e eu tô aqui. com ele. por ele. sendo pai de verdade. sem glamour, sem filtro. só presença. presença total.
e quer saber… isso sim é punk rock. isso sim é viver.