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2025

minha autobiografia

ninguém me pediu pra escrever minha autobiografia.
mas eu escrevi.
e foda-se.

porque se eu esperasse o mundo estar pronto pra minha versão da história, eu ainda estaria na sala de espera de alguma consultoria medíocre, sorrindo pra um gestor que acha que cultura é mural colorido e pizza na sexta.

então aqui está…
minha versão.
sem cortes.
sem suavização.
sem a narrativa envernizada que cabe num carrossel de cinco passos pro sucesso.

eu comecei como todo mundo começa… com fome.
mas não aquela fome romântica de quem quer “mudar o mundo”.
a minha era outra.
era fome de entender.
de mergulhar no que pulsa por trás das marcas, das campanhas, dos briefings escritos por gente que nunca olhou pra dor de verdade.
era fome de buscar sentido onde só tinha verniz.

e eu entrei nesse mercado achando que ia criar coisas que importam.
e o que encontrei foi um mundo viciado em superfície.
em estética.
em resultado trimestral.
gente que mede valor pelo número de curtidas.
ideias formatadas como produto.
criatividade encaixotada, em série, como se fosse linha de montagem de storytelling automatizado.

mas mesmo assim, eu fiquei.
porque ali, no meio daquela podridão com aroma de café requentado e frases motivacionais coladas na parede com fita dupla face,
eu vi espaço pra ser tudo que eles não esperavam.

eu nunca fui o funcionário ideal.
fui o ruído no fone.
a pausa desconfortável na reunião.
aquele que te olha e diz, isso aqui tá errado, vamos fazer do nosso jeito e eles que se fodam.
e se você não aguenta essa conversa, você também não vai aguentar o que vem depois.

me chamaram de intenso.
e eu aceitei.
melhor do que ser raso.

me chamaram de complicado.
e eu respondi… não fui feito pra ser simples.

me chamaram de difícil.
mas só porque eu não aceito viver fácil.

eu recusei o jogo.
o teatrinho do colaborador exemplar.
o falso coleguismo de reuniões mornas.
o sorriso político da agência que finge que ama o cliente enquanto sangra por dentro.

eu escolhi o desconforto.
escolhi mergulhar até onde ninguém queria ir.
escolhi sentir cada criação como uma extensão da minha identidade.
e por isso mesmo, cada entrega minha carrega algo que você não encontra fácil por aí…
presença.
intensidade.
vida.

e também… dor.
porque não dá pra criar algo que vale a pena sem perder um pouco de si.
não dá pra construir algo real se você só toca o mundo com luva de proteção emocional.

então sim, eu empreendi.
falhei.
recomecei.
não com a pose do herói da capa da forbes,
mas com a cara suja de alguém que atravessou o inferno da incerteza,
voltou com uma ideia na mão e ainda ouviu de volta…
“mas qual é o roi disso?”

e mesmo assim, eu continuei.

porque eu não sou movido por aceitação.
sou movido por necessidade.
pela urgência de fazer algo que não seja só bonito,
mas que mude algo dentro de alguém.
nem que seja só dentro de mim.

e sim, eu sou contraditório.
sou idealista e cínico na mesma frase.
sou profundamente apaixonado por comunicação e completamente enojado por como ela é tratada.
sou um artista acidental num mercado que premia pose.
sou uma tempestade vestindo crachá. e aliás, nunca usei e nunca usarei crachás.

e enquanto me pedem pra “otimizar processo”,
eu quero mesmo é explodir a lógica.
porque onde todo mundo busca padrão,
eu busco fratura.
onde eles veem métrica,
eu vejo víscera.
onde eles querem encantamento,
eu quero desconforto.

porque talvez a função de quem ainda tem alma nesse jogo
não seja agradar.
seja provocar.
seja deixar um silêncio incômodo depois que todo mundo saiu da sala.
seja fazer com que pensem…
“eu não entendi tudo que ele fez,
mas eu senti.”

e é isso que eu sou.
não um profissional.
mas uma presença.
não uma marca pessoal.
mas um ruído persistente no meio do feed.

então se um dia me pedirem uma autobiografia…
a resposta já tá escrita.

ninguém pediu.
mas eu fiz.
e foda-se.