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2025

sobre ela

nunca fui de aprender com facilidade. me distraía com barulhos, com o mundo lá fora, com as próprias urgências que eu inventava pra não encarar o que realmente importava. vivi muito tempo no automático, empurrando, desviando, rindo quando era mais fácil do que sentir.
e aí veio ela. sem fazer barulho. sem anunciar nada.

ela chegou e foi abrindo janelas que eu nem sabia que existiam.
não me ensinou com discursos. me ensinou com presença.
e o que eu aprendi com ela não coube em livros nem em conselhos. foram três coisas. só três. mas três que mudaram tudo.

primeiro, ela me ensinou a entender meu mundo interno.
olhar pra dentro, de verdade. não aquela introspecção teatral que a gente posta por aí pra parecer profundo, mas o tipo de mergulho que incomoda, que revira, que transforma.
ela me fez perceber que não adianta tentar consertar o mundo se eu não tiver coragem de abrir as portas do meu próprio silêncio.
e, mais do que isso, ela me ensinou que há beleza no caos. que a bagunça interna não é um erro, é um mapa. e que entender isso muda tudo.

depois, ela me ensinou a assumir responsabilidade. radical, absoluta, sem vírgulas.
ela nunca me disse “a culpa é sua”. ela só me mostrava, com o jeito dela, que tudo o que eu fazia, ou deixava de fazer, era escolha minha.
me fez ver que apontar o dedo pros outros era só uma forma de não crescer.
e crescer, com ela, virou não uma obrigação, mas uma possibilidade.
não se tratava de culpa, se tratava de poder.
e eu nunca tinha me sentido tão forte quanto quando comecei a admitir minhas próprias falhas.
ela me fez querer ser responsável, porque ela acreditava que eu podia ser.

e por fim, ela me ensinou a dançar com a impermanência.
ela nunca quis controlar o ritmo da vida.
ela me ensinou a respirar fundo nos altos, e a confiar nos baixos.
a aceitar que há dias em que tudo flui, e outros em que tudo trava e que nenhum dos dois dura pra sempre.
ela não luta contra a maré. ela observa, acolhe, se adapta.
e com isso, eu fui aprendendo a fazer o mesmo.
com ela, aprendi a não temer os invernos.
porque ela sempre soube que tudo floresce de novo. até a gente.

não é sobre perfeição.
ela não veio pra me salvar.
ela veio pra caminhar comigo enquanto eu aprendia a salvar a mim mesmo.

ela me ensinou, com a calma de quem sabe o tempo das coisas,
que viver não é controlar tudo.
é sentir tudo.

e, por algum milagre ou teimosia do destino, ela me escolheu pra caminhar ao lado dela.
com todas as minhas dúvidas, todas as minhas falhas, todas as partes que ainda estavam por costurar.
e ainda assim… ela ficou.
e eu aprendi.

ela me ensinou.
e por isso, eu sou, finalmente, eu.