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2025

decisão

decidi que, daqui até o fim do ano, eu não compro mais nada que não seja pra garantir que eu acorde no dia seguinte respirando e, de preferência, sem fungos crescendo nas paredes. acabou. se não for comida, água, sabão, café ou uma ferramenta pra impedir que o teto caia na minha cabeça, vai ficar na prateleira de quem quiser bancar o idiota no meu lugar. e não é porque eu virei um apóstolo do minimalismo, nem porque me inscrevi num retiro budista. é porque eu cansei. cansei de sustentar essa pornografia consumista onde cada clique é um gemido falso e cada caixa que chega é um orgasmo de três segundos, seguido de um silêncio constrangedor e a sensação de que você só fez papel de trouxa.

chega de comprar coisas que eu já esqueci que comprei antes mesmo da fatura fechar. chega de gadgets que prometem revolucionar minha vida e acabam servindo de peso de papel. chega de livros que nunca leio, roupas que nunca uso, canecas com frases motivacionais que nunca motivam ninguém. até o fim do ano, se algo quebrar, eu vou consertar. se não der, eu vou improvisar. se não funcionar, azar. vou aprender a viver com menos ou, pelo menos, fingir que sim.

isso não é sobre economia, é sobre vingança. vingança contra essa indústria que me trata como um ratinho dopado, correndo na rodinha por um pedaço de queijo feito na china, entregue por um motoboy exausto que quase foi atropelado pra satisfazer minha necessidade patética de ter algo novo hoje. vingança contra esse algoritmo que me conhece melhor que eu mesmo, que sabe exatamente o que me fazer querer às duas da manhã quando eu deveria estar dormindo. e, principalmente, vingança contra mim porque eu fui o cúmplice perfeito nesse crime contra meu próprio espaço vital.

talvez eu descubra que viver assim é libertador. talvez eu descubra que é um inferno. talvez, no dia 31 de dezembro, eu esteja tremendo num canto, babando, com o celular na mão e a aba da loja aberta. mas até lá, eu vou resistir. não por virtude, mas por teimosia. porque, se tem uma coisa que eu aprendi, é que nada dói mais no capitalismo do que você dizer “não, obrigado” e realmente querer dizer isso.