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2025

ny

nova york não é só a melhor cidade do mundo pra fotografia de rua. ela é o ringue onde você, sua câmera e a vida real entram num combate de doze rounds sem juiz, sem regra, e sem chance de você sair limpo. cada esquina é uma emboscada visual. cada rosto é um enredo inédito que vai desaparecer pra sempre se você piscar. aqui, não existe “momento decisivo” no sentido romântico-cartier-bresson da coisa, existe uma torrente ininterrupta de absurdos, contradições e microdramas acontecendo ao mesmo tempo, sem pedir sua permissão. e se você não tiver dedo rápido e olho afiado, paciência, a cidade já seguiu sem você.

ny não tem paciência pra fotógrafos que querem “a luz perfeita” ou “o enquadramento ideal”. luz perfeita? aqui ela muda a cada meio quarteirão porque um prédio de vidro espelha o sol na sua lente enquanto um ônibus passa e joga sombra e fumaça de escape na sua cara. enquadramento ideal? boa sorte enquadrando quando um vendedor de falafel resolve gritar com um taxista no meio da sua foto. e é isso que amo, porque só nesse caos a foto deixa de ser sobre estética e vira sobre sobrevivência.

andar com câmera por manhattan é como estar no epicentro de uma tempestade de histórias humanas. o executivo engravatado comendo pizza dobrada com a mão esquerda enquanto digita um e-mail com a direita. o mendigo que construiu um trono com caixas de papelão e fita silver tape. a influencer tentando a 47ª selfie do dia no soho, sem notar o gari que passa atrás dela com um olhar que grita “me tira daqui”. você está lá, capturando tudo, não porque quer, mas porque seria criminoso não registrar.

o metrô é um capítulo à parte. uma ópera subterrânea onde cada vagão é um elenco improvável… um cara tocando acordeão desafinado enquanto um grupo de adolescentes improvisa um campeonato de dança acrobática pendurado nas barras. do outro lado, uma senhora com sacolas do trader joe’s lê um livro de 900 páginas como se estivesse sozinha no planeta. e quando as portas se abrem, você sobe pra superfície e a cidade muda de gênero cinematográfico… drama urbano no brooklyn, comédia absurda no east village, noir chuvoso na times square às 3 da manhã.

o que faz nova york ser insuperável não é só a diversidade, é a intensidade. é a total ausência de filtro social. ninguém aqui tem tempo pra se importar com o que você está fazendo. eles estão ocupados vivendo suas próprias novelas de alta tensão. e isso te dá algo raro, a liberdade absoluta de observar, registrar, espiar, sem que o ato seja um evento. em qualquer outro lugar, apontar uma câmera pra alguém é pedir permissão ou brigar por atenção. aqui, você é invisível. e invisibilidade, pro fotógrafo de rua, é o superpoder definitivo.

e tem o cheiro. aquele mix que só existe aqui, pretzel queimado, gasolina, fumaça de food truck, suor de gente que corre pra não perder o metrô, perfume caro comprado na quinta avenida e maconha que alguém acendeu no beco atrás de uma delicatessen. é o aroma de uma cidade que não descansa, não pede desculpa e não se importa se você aprova.

no fim das contas, fotografar pessoas em nova york é como pescar num mar em tempestade, as histórias pulam dentro do seu barco, mas o mar tenta te derrubar o tempo todo. e você segue lá, molhado, congelado, com o obturador colado no dedo… porque sabe que, mesmo que o mundo acabe, vai ter mais uma foto esperando na próxima esquina. e só essa cidade entrega isso, sem pedir nada em troca.