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2025

agora! now!

o culto da opinião instantânea é o fast-food da inteligência… barato, mal feito, indigesto, mas todo mundo consome como se fosse caviar. não importa se você nunca leu nada além de legenda de instagram, se acha que geopolítica é nome de remédio pra dor de estômago, ou se confunde o oriente médio com uma rede de restaurantes. o que interessa é postar rápido. guerra, eleição, pandemia, crise climática, álbum novo da diva pop, você tem trinta segundos pra soltar seu veredito. se atrasar, já é cúmplice do mal, um covarde digital, um traidor da causa do momento.

a internet transformou a ignorância em sprint olímpico. não vale a pena estudar, refletir, mastigar a informação. isso é coisa de gente ultrapassada, chata, sem engajamento. o que conta é lacrar no timing, ter a frase mais histérica, mais inflamável, mais “compartilhável”. não se trata de estar certo, deus me livre, mas de estar primeiro. e quem ousa esperar, pensar, articular uma frase sem emojis? pronto, é um alienado, um isentão, um verme moral.

é lindo e grotesco ao mesmo tempo. virou teatro. cada trending topic é uma peça com papéis definidos… os indignados profissionais, os cínicos sarcásticos, os falsos neutros, os oportunistas que fazem thread de 80 posts só pra engordar seguidor. é uma feira livre de vaidade. e o mundo real, aquele que continua acontecendo mesmo sem notificação push, esse que se foda.

ninguém quer verdade, quer performance. ninguém quer profundidade, quer frase de efeito. pensar virou pecado mortal, porque pensar demora. e demora significa perder a onda, perder cliques, perder relevância. no palco do algoritmo, nuance é assassinato ao vivo. tipo esse texto que vocês estão lendo… teve muito pensamento envolvido e demorou uma semana para ser escrito. sou um pecador dos tempos modernos.

o mais engraçado é que essa “urgência moral” tem prazo de validade de iogurte vencido. hoje é a tragédia da semana, amanhã é a piada da vez. indignação virou produto descartável. usamos, postamos, descartamos. enquanto isso, a guerra continua, a eleição se repete, a popstar segue vendendo turnê mundial. a roda gira, e você segue latindo pro carteiro digital, sem nunca perceber que é só mais um cachorro no coro global do nada.

no fundo, essa pressa toda é só uma desculpa bem embrulhada pra não admitir o óbvio, ninguém sabe porra nenhuma. mas falar menos seria admitir ignorância, e isso dói. então falamos mais. sempre mais. sempre mais alto. sempre mais rápido. até que o silêncio vire luxo… luxo de quem ainda tem coragem de pensar antes de abrir a boca.