
crianças e celulares, o casamento disfuncional mais aceito da era moderna. a solução fácil, prática, que todo mundo adota sem pensar muito. o que você faz quando seu filho está dando trabalho? empurra um celular na mão dele, e pronto: problema resolvido. mas a que custo? ah, claro, ele fica quietinho, você respira aliviado, mas mal percebe que, junto com a paz temporária, você tá criando um pequeno zumbi digital, completamente imerso em uma tela, enquanto o mundo real passa lá fora, sem ele.
eu sei, a tentação é grande. é fácil. mas e aí? onde fica a capacidade de inventar, de criar algo do nada? sem um app brilhante, sem um vídeo que grita “assista agora”? com meu filho, mesmo sem brinquedos, a gente inventa: saquinhos de açúcar e adoçante viram carrinhos, palitos de dente são obstáculos, cardápios de restaurante viram pontes e rampas. não precisa de tecnologia pra isso, só de imaginação. mas quem ainda tem tempo pra estimular isso?
o problema não é só as crianças, é claro. nós, os adultos, também estamos presos no mesmo ciclo. pregamos sobre limites, falamos da importância de “desconectar”, mas quantos de nós realmente largamos o celular? quantos de nós nos permitimos um momento de tédio, de estar presente de verdade, sem o impulso de checar notificações? estamos criando uma geração que não sabe o que é esperar, que não sabe o que é criar algo a partir do tédio, porque nós mesmos esquecemos como se faz.
não tô dizendo que o celular é o grande vilão. a tecnologia tem seu lugar, sem dúvida. mas quando ele se torna a primeira e única solução, quando a vida da criança é mediada por uma tela, a gente tá perdendo o que realmente importa. e você? o que tá perdendo ao dar o celular pra calar aquele minuto de birra? a chance de mostrar que dá pra se divertir com qualquer coisa – um palito de dente, um saquinho de açúcar – ou de ensinar que a vida não acontece na velocidade de um clique, mas nos pequenos momentos que a gente constrói juntos.
a questão não é proibir, mas equilibrar. colocar o celular de lado e criar espaço para o improviso, para a criatividade que vem do inesperado. a verdade é que, cada vez que você entrega o celular, está abrindo mão de algo muito maior. algo que não vai voltar tão cedo.