Categorias
2024

ser professor

ser professor é, no fundo, uma das maiores declarações de amor ao conhecimento que alguém pode fazer. imagine um trabalho onde o pagamento real não vem em dinheiro, não vem em aplausos, não vem em placas de “funcionário do mês” penduradas na parede. ser professor é escolher, dia após dia, mergulhar de cabeça num oceano de olhos preguiçosos, de mentes distraídas, de cadernos em branco. e, ainda assim, encontrar prazer nesse ato de nadar contra a correnteza. ser professor é ser, de algum jeito, um romântico incorrigível, aquele que acredita, contra todas as probabilidades, que um mundo melhor começa dentro de uma sala de aula.

porque, veja bem, é ali, naquele cenário caótico de lousas rabiscadas e celulares espreitando debaixo das carteiras, que a magia acontece. o professor é como um chef que não trabalha com receitas prontas. ele entra na cozinha sem saber o que vai encontrar, com ingredientes que mudam a cada dia, mas sempre com a mesma paixão. e, entre uma explicação e outra, ele vai misturando ideias, histórias, experiências de vida. ele vai jogando temperos de sarcasmo e de crítica, de provocação e de questionamento, porque sabe que o bom conhecimento não é digerido de uma vez só – ele é degustado, pedaço a pedaço, até se tornar parte de quem o experimenta.

e olha, ser professor é ser o mestre de um ritual antigo. em cada aula, ele desafia a ordem natural das coisas. porque, enquanto o mundo lá fora vende a ilusão do sucesso rápido, das respostas prontas, o professor tá ali pra mostrar que o saber de verdade é um processo lento, doloroso às vezes, mas absolutamente necessário. ele tá ali, não pra te dar a resposta, mas pra te ensinar a fazer as perguntas certas. é como ser um guia numa trilha escura: ele não vai te carregar no colo, mas vai iluminar o caminho pra que você descubra sozinho onde pisar.

a realidade é que os professores são os heróis mais subestimados da nossa sociedade. eles são os que seguram o barco enquanto tudo ao redor parece afundar. e eles fazem isso com uma paciência invejável, com uma resiliência que desafia qualquer lógica. porque, no fundo, eles sabem que o que estão plantando ali vai além da matemática, da literatura, da química. estão plantando o senso crítico, a curiosidade, aquela faísca de querer saber mais, de querer entender o mundo. estão criando um exército de pessoas que, se tudo der certo, vão questionar o que precisa ser questionado e mudar o que precisa ser mudado.

e o mais incrível? eles fazem tudo isso sabendo que a maioria dos seus esforços jamais será reconhecida. você não vê professores estampando capas de revista, nem ganhando prêmios milionários. mas eles estão lá, todos os dias, criando revoluções silenciosas em mentes que ainda estão descobrindo o próprio poder. o professor sabe que, um dia, um aluno pode olhar pra trás e perceber que foi ali, naquela sala de aula, que ele começou a entender quem realmente é. e isso, meu amigo, é o tipo de impacto que nenhum salário pode pagar.

ser professor é também, vamos admitir, uma espécie de vício. uma vez que sente o gosto de ver alguém despertando pro mundo, não tem mais volta. você tá fisgado. é como se a cada dia você fosse o único que consegue enxergar o potencial oculto naquela molecada distraída, aquele brilho apagado em cada olhar sonolento. e por mais desafiador que seja, por mais que as estruturas tentem engessar seu trabalho, você encontra um prazer secreto em subverter as regras, em encontrar brechas pra instigar, pra provocar, pra plantar uma dúvida onde antes só existia indiferença.

e aí está o grande segredo: o professor não tá ali só pra ensinar fatos ou teorias. ele tá ali pra ensinar como ser humano. ele tá ali pra mostrar que o conhecimento não é só um monte de fórmulas e datas; é um jeito de ver a vida com profundidade, com nuance, com coragem. e é por isso que ele usa de tudo: das piadas sarcásticas que tiram uma risada até os discursos que forçam o aluno a repensar aquilo que ele sempre aceitou como verdade. cada comentário, cada provocação, é como uma marretada nas paredes que o mundo ergue ao redor dessas mentes jovens, e a satisfação tá em ver essas paredes começarem a rachar.

e, no meio de tudo isso, o professor ainda encontra tempo pra se importar. ele percebe aquele aluno quieto no canto, aquele que nunca participa, aquele que parece invisível. porque o professor sabe que, às vezes, o que você ensina não tá nos livros, mas no fato de estar ali, de ser a pessoa que se importa o suficiente pra perguntar se tá tudo bem, pra oferecer uma palavra de incentivo quando ninguém mais oferece. isso, meu amigo, é o tipo de coisa que fica. é o tipo de coisa que um aluno vai lembrar quando, anos depois, ele se pegar pensando em quem ele realmente é, de onde ele veio e pra onde ele quer ir.

ser professor, no fim das contas, é ser um escultor de mentes, um arquiteto de sonhos, um plantador de ideias subversivas que, um dia, vão brotar nos lugares mais inesperados. é saber que, mesmo que você não veja o resultado agora, você tá criando raízes profundas que vão sustentar futuros que você nunca vai testemunhar. e isso é um tipo de glória que poucos têm o privilégio de experimentar.

então, se você é professor, saiba que você faz parte de uma liga secreta de agentes do caos e da curiosidade. você é o que desafia a banalidade, o que ri na cara do conformismo, o que planta dúvidas como quem planta sementes, sabendo que nem todas vão brotar, mas as que brotarem vão florescer de um jeito que ninguém pode prever. e se isso não é motivo de orgulho, de inspiração e de pura teimosia, então eu não sei o que é. porque ser professor, apesar de todas as batalhas diárias, é ser, no fundo, um eterno otimista disfarçado de cínico. é acreditar, todo santo dia, que o futuro vale a pena. e só por isso, você já merece todo o respeito e admiração do mundo.