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2024

o que mais odeio em ny

a única coisa que odeio em nova york? a miragem. aquela ideia ridícula, plantada no inconsciente coletivo do planeta, de que a cidade é a meca dos sonhos, o palco onde a vida real acontece. nova york é um golpe de marketing de proporções épicas. é um polvo gigante de concreto e aço que abraça todos, e aperta até deixar cada um em pedaços.

todo mundo chega com uma lista mental de cenas de filmes e seriados que assistiram, achando que vai viver uma versão particular de sex and the city, uma montagem épica em que cada derrota pessoal se torna um símbolo de resistência poética. só que nova york não te dá um segundo de poesia. ela te engole num sopro seco e te joga direto no ciclo de sobreviver. a cidade te faz pagar vinte dólares por uma salada de folhas tristes, te joga num apartamento que parece uma cela decorada com “charme vintage”, e te convence de que isso é o cúmulo da sofisticação.

nova york te humilha de um jeito sutil. ela cria o desespero pela aprovação dela. as pessoas literalmente se matam, fazem jornadas que fariam até os trabalhadores das minas de carvão desmaiar, tudo pra dizer que pertencem a nova york. e sabe o que é brilhante? ela faz todo mundo acreditar que a dor faz parte da experiência. o barulho ensurdecedor, o trânsito, a fila, a umidade, o metrô parado, a parede de tijolos e a falta de vista? são vistos como “charme da cidade”. charme é o seu pesadelo diário.

no fundo, nova york é o maior cafetão cultural de todos os tempos. ela sabe que cada calçada cheia, cada ratinho no trilho do metrô, cada buzina que explode nos ouvidos faz parte da “aura” do lugar. é um truque barato, mas todo mundo cai. ela te ilude com essa promessa de vida urbana em alta velocidade, de sucesso, de cultura e autenticidade, mas o que você realmente ganha é uma conta bancária vazia, insônia crônica, e uma lista de terapias alternativas pra lidar com o estresse de viver ali.

e o pior de tudo é que nova york é, sim, irresistível. é isso que eu odeio: ela ganha. ela sempre ganha. nova york é um vício. e não importa quantas vezes você tente escapar – nova york te puxa de volta, te espreme mais um pouco, te seduz com mais uma promessa de “sucesso”. você ama odiar, odeia amar, e no final das contas, a cidade só vai te dar uma coisa: uma saída.