
viajar com minha família é como pedir o prato mais arriscado do cardápio sem saber o que vai chegar. tudo é improviso, tudo é intenso, tudo é delicioso de um jeito que só faz sentido para quem está ali, vivendo aquilo com você. somos nós três, uma gangue desajeitada, desbravando o mundo com fome — não só de comida, mas de vida, de caos, de tudo que nos faz sentir vivos.
não é só sobre o meu filho, embora ele seja a faísca que acende tudo. é sobre nós como um todo, uma pequena tribo em movimento. cada dia juntos é uma espécie de dança sem coreografia: tropeçamos, rimos, nos reerguemos, seguimos. dividimos tudo, dos pequenos triunfos até os inevitáveis perrengues. uma mala esquecida, uma fila interminável, um mapa que nos leva para o lugar errado — nada disso importa, porque o verdadeiro destino é o que acontece entre nós enquanto o mundo ao redor tenta nos engolir.
é lindo e bagunçado de um jeito que nunca caberia em um álbum de fotos. não são os pontos turísticos que contam, mas os momentos entre eles: a forma como dividimos um bagel que claramente não foi feito para três, a risada abafada enquanto observamos meu filho transformar até uma poça d’água em algo épico, o silêncio confortável quando todos estamos exaustos, mas não queremos que o dia acabe.
viajar com eles é um lembrete cruel de que o tempo não está nem aí para você. ele corre, te atropela, e a única coisa que resta é aproveitar cada segundo como se fosse o último gole de uma garrafa que você nunca mais vai encontrar. e nós fazemos isso. não porque somos perfeitos, mas porque sabemos que a vida nunca vai ser.
então seguimos. juntos. não importa se estamos perdidos, cansados ou famintos, porque enquanto estivermos lado a lado, estamos exatamente onde precisamos estar. e, no final das contas, é isso que importa: o som das risadas, o peso confortável de uma mão familiar segurando a sua, e a certeza de que nada, absolutamente nada, supera a intensidade de viver cada momento com quem você ama.