
essas coisas não são só objetos. são pedaços de quem sou, da minha rotina, das escolhas que faço todos os dias. a quintessência não é só o que funciona – é o que fica. o que resiste ao tempo, às mudanças, e às minhas tentativas de me livrar de tudo que não importa.
1. mochila ou sling bag de couro
a mochila é onde tudo começa. couro preto, grosso, com marcas que não estão ali pra contar histórias – elas só existem, como cicatrizes de alguém que sobreviveu sem se gabar disso. ela já carregou tudo: cadernos que eu juro que vou preencher, cabos que nunca vou usar, roupas que sempre parecem erradas pra ocasião. já foi jogada em esteiras de aeroporto e atirada no chão de cafés lotados, mas nunca falhou comigo. é prática, pesada, e irritantemente indispensável.
a sling bag, por outro lado, é minimalismo forçado. só o necessário: caderno, canivete, fones, talvez um isqueiro. quando eu não quero parecer alguém que está fugindo de casa, é ela quem vai comigo. pequena, discreta, e mais útil do que eu gostaria de admitir.
2. canivete suíço
o canivete não é heroico, e é exatamente isso que eu gosto nele. ele não vai salvar ninguém, mas já me salvou de algumas situações irritantes – abrir pacotes selados como se fossem um cofre do banco central, cortar pedaços de barbante que teimam em fazer minha paciência parecer insuficiente, ou abrir tampas e lacres que foram projetados por sádicos. ele não é imponente, mas está sempre lá, pronto pra resolver o tipo de problema que você não espera, mas que sempre aparece.
3. isqueiro
não precisa ser um zippo. não precisa ser bonito. só precisa funcionar – e o meu sempre funciona. nunca fumei, mas carrego porque, de alguma forma, um isqueiro é como um amuleto: um pequeno lembrete de que você pode criar algo do nada. ele já acendeu velas em noites que não mereciam ser lembradas, ressuscitou fogueiras que duraram menos do que deveriam, e, uma vez, foi usado pra selar a ponta de um fio que insistia em desfiar. ele não pede nada, mas entrega sempre. isso é quintessência.
4. botas de couro
são minha aquisição mais recente. depois de anos usando tênis – leves, confortáveis, práticos, mas completamente sem alma – percebi que algo estava errado. tênis são passageiros, descartáveis, projetados pra serem substituídos antes mesmo de você se apegar. as botas, por outro lado, são o oposto: pesadas, resistentes, cheias de caráter. cada arranhão, cada marca, é um lembrete de que elas estão comigo, não contra mim. já enfrentaram calçadas rachadas, pisos molhados e aquele tipo de sujeira que só parece existir em aeroportos. abandonei os tênis porque, sinceramente, queria algo que durasse – algo que envelhecesse comigo, em vez de ser jogado fora na próxima estação.
5. caderno de capa dura
não é um espaço para poemas ou pensamentos brilhantes – e é exatamente por isso que gosto dele. meu caderno é preenchido com listas que nunca completo, ideias que perdem o sentido antes de virarem algo real, e rabiscos que eu provavelmente fiz só pra matar o tempo. ele está ali, esperando. é o tipo de coisa que não exige nada de você, mas está sempre disponível quando o caos precisa ser colocado no papel.
6. caneta tinteiro
ela mancha os dedos, a mochila, e uma vez quase arruinou meu bolso. e ainda assim, é indispensável. escrever com uma caneta tinteiro é um exercício de atenção. ela te obriga a pensar antes de agir, porque tinta não perdoa erros. é imperfeita, teimosa, mas de alguma forma transforma até uma lista de supermercado em algo que parece ter importância.
7. ipod classic + fone original
ainda uso um ipod porque, francamente, ele faz o que precisa e só isso. ele não tenta me vender nada, não me interrompe com anúncios ou notificações, e nunca me força a atualizar algo que já funciona. os fones originais? são ruins, mas têm alma. ouvir música no ipod é como revisitar uma época em que as coisas eram simples, imperfeitas e, de alguma forma, melhores.
8. óculos escuros de acetato/grau
eles não são só óculos – são uma barreira. sofro de fobia social, aquela sensação desconfortável de que o mundo está te olhando mais do que deveria. os óculos escuros me protegem disso. eles deixam o mundo mais distante, mais tolerável. colocá-los é como dizer: “hoje não, mundo. tente amanhã.” não saio de casa sem eles porque, sem eles, o mundo parece maior do que realmente é.
9. relógio mecânico
é um velho Rolex da década de 50. ele atrasa. todo santo dia. precisa de corda, como uma criatura teimosa que exige atenção pra continuar funcionando. e, ainda assim, ele é perfeito. ele não vibra, não manda notificações, não tenta competir com o meu smartphone. é só um tique-taque constante, um lembrete de que o tempo não para, mesmo quando você esquece de cuidar dele.
10. smartphone do momento
não sou fã de nenhuma marca. um dia é apple, no outro android – o que estiver funcionando no momento. troco de smartphone como quem troca de humor: rapidamente, sem muita explicação. mas ele está sempre lá, porque, no fim, você precisa de algo que conecte você ao mundo – mesmo que seja só pra te lembrar de que o mundo está muito ocupado pra te notar.
11. carteira de couro da goyard
não é de uma marca qualquer, e nem daquelas óbvias que vêm à cabeça quando você pensa em luxo. é uma carteira da goyard, um presente que recebi da própria marca em uma visita de trabalho à sede deles. ela é elegante sem gritar, funcional sem ser monótona. já guarda meus cartões há mais de 10 anos – e, honestamente, vai continuar comigo enquanto durar.
12. airpods pro gen 1
não são os melhores, mas fazem o trabalho. bloqueiam o mundo lá fora, abafam as conversas que eu prefiro não ouvir, e deixam a música ser a única coisa que importa. é isso ou lidar com o caos em volta, e, sinceramente, sei qual das duas opções prefiro.
13. fujifilm x100f
ela passa facilmente por uma câmera de filme – o que só aumenta seu charme. não é nova, mas não precisa ser. a fujifilm x100f é como uma velha amiga: confiável, discreta, mas com o poder de transformar algo completamente banal em uma história que vale a pena contar. cada clique é um lembrete de que, mesmo quando tudo parece igual, há sempre uma nova maneira de enxergar o mundo.