
o mundo corporativo é a maior piada mal contada do nosso tempo. uma ópera de mediocridade cheia de gente que finge que sabe o que está fazendo enquanto troca e-mails com palavras como “alinhamento”, “sinergia” e “pivotar”. mas a verdadeira comédia – o humor negro que só quem já viveu esse inferno refrigerado entende – é que todo mundo ali está fingindo. ninguém, absolutamente ninguém, tem ideia do que está fazendo.
primeiro, você precisa passar pela humilhação pública conhecida como entrevista de emprego. ah, o teatro de desespero. você veste sua roupa mais desconfortável, decora frases feitas sobre “trabalho em equipe” e “adaptação a novos desafios” e entra na sala com aquele sorriso que grita “eu faço qualquer coisa por um salário fixo”. o entrevistador? ele está ali pra julgar cada vírgula que você diz enquanto pergunta coisas como “qual sua maior fraqueza?”. eu deveria ter respondido “essa entrevista”, mas claro, falei algo genérico como “sou perfeccionista demais”. todo mundo fala isso. eles sabem que é mentira, mas escrevem no caderninho mesmo assim.
e quando você finalmente consegue o emprego, é como abrir a porta do paraíso… e descobrir que é só mais um cubículo com cheiro de café velho e desodorante vencido. eles te entregam um computador que parece um pedaço de sucata e um crachá com sua foto tirada no pior ângulo possível. “bem-vindo à equipe!”, dizem, enquanto você tenta entender como o sistema interno da empresa ainda funciona no windows xp.
o primeiro dia é sempre uma obra-prima do caos. ninguém sabe direito o que você deveria estar fazendo, então jogam você no “treinamento de integração”. basicamente, é um powerpoint com 157 slides sobre a “missão” e “valores” da empresa – que ninguém na sala segue, mas que todo mundo finge acreditar. “aqui valorizamos o bem-estar dos funcionários”, eles dizem, enquanto te empurram metas impossíveis e uma vaga sensação de que você nunca vai sair daquele lugar vivo.
e aí vem o dia a dia. sabe o que significa trabalhar numa empresa? reuniões. um tsunami de reuniões. elas acontecem de manhã, à tarde, às vezes até no horário de almoço – porque, claro, ninguém precisa comer, certo? e todas são igualmente inúteis. uma vez, passei 90 minutos numa reunião sobre como otimizar o uso do papel toalha no banheiro do escritório. eu saí mais burro do que entrei, mas, aparentemente, a empresa economizou R$ 7,35 no mês seguinte.
e não vamos esquecer os e-mails. eles começam inocentes: “bom dia, equipe, segue o relatório.” mas logo você descobre que o inferno tem uma caixa de entrada. tem sempre um colega que responde a tudo com “obrigado” – só pra mostrar que ele leu, mesmo que ninguém tenha perguntado. ou o chefe que adora copiar todo mundo em mensagens que deveriam ser privadas. nada como receber um e-mail às 22h com o assunto “urgente”, só pra abrir e descobrir que era sobre a cor da apresentação da próxima reunião.
e claro, tem o famigerado happy hour. o único momento em que todos os funcionários são obrigados a fingir que gostam uns dos outros fora do horário de trabalho. a empresa paga a primeira rodada, depois é cada um por si. o chefe tenta ser “descolado”, pedindo caipirinha e fazendo piadas que ninguém acha engraçadas. tem sempre um que bebe demais e fala coisas que deveria guardar pra terapia, e no dia seguinte todo mundo finge que nada aconteceu.
mas o grande show é a avaliação de desempenho. eles dizem que é pra “reconhecer seu esforço” e “ajudar no seu desenvolvimento profissional”. mentira. é uma desculpa pra te dizer que você trabalha bem, mas não o suficiente pra receber um aumento. “você está indo muito bem, mas queremos ver mais liderança da sua parte.” liderança? eu mal consigo liderar minha vida pessoal, e agora tenho que liderar o quê?
e no meio disso tudo, tem o mito da meritocracia. a ideia de que, se você trabalhar mais, será recompensado. aham, claro. sabe quem é promovido? o cara que entrega o café pro chefe, ri das piadas mais sem graça e sempre concorda com tudo. já vi pessoas brilhantes passarem anos apagando incêndios enquanto o puxa-saco da sala ao lado recebia um cargo novo e uma sala com vista.
o mundo corporativo também adora criar ilusões. como a ideia de que trabalhar muito é sinônimo de sucesso. é por isso que tem gente mandando e-mails às 2h da manhã ou entrando no escritório aos sábados. eles não estão sendo produtivos. eles estão sendo vistos. porque, no fim das contas, o mundo corporativo é só isso: um desfile de vaidades onde a aparência de eficiência vale mais do que o trabalho real.
mas o pior de tudo é que a gente se acostuma. o café horrível, as piadas sem graça, o chefe que fala sobre “pensar fora da caixa” enquanto só aceita ideias seguras. tudo isso vira rotina. e antes que você perceba, está contando os dias pra sexta-feira e rezando pra próxima demissão ser voluntária.
o mundo corporativo não é feito pra ser suportado. é feito pra te drenar, te desgastar e, no final, te convencer de que tudo valeu a pena porque você tem um plano odontológico que cobre metade do tratamento. mas, ei, pelo menos tem bolo no seu aniversário. seco, de abacaxi com creme, mas ainda assim, um bolo.