Categorias
2024

mortalidade

a mortalidade. ah, sim, o grande equalizador. o final inevitável. mas vamos ser honestos: quando você tem 20 anos, ela é tão real quanto unicórnios ou políticos honestos. é algo que acontece com os outros – pessoas em filmes, idosos que você mal conhece, ou aquela história vaga sobre um cara que “foi cedo demais”. aos 20, você se sente como uma aberração biológica, invencível e infinito. você pode devorar um kebab duvidoso às três da manhã, lavar com cerveja barata e acordar algumas horas depois como se tivesse dormido em lençóis de algodão egípcio. você se acha um super-herói. spoiler: você não é.

aos 20, a vida é só excesso. você vive como se fosse o dono de um cartão de crédito sem limite emocional, enchendo o carrinho com aventuras idiotas e escolhas questionáveis porque, no fundo, você acredita que sempre haverá mais. mais tempo. mais chances. mais corpo. a morte? ela é um conceito tão distante que poderia muito bem estar vivendo em outro planeta. e, francamente, você nem acha que merece pensar sobre ela. mortalidade é para os fracos, para os outros. nunca para você.

e então você chega perto dos 50. e, meu amigo, a piada finalmente faz sentido. seu corpo, esse cúmplice silencioso que nunca reclamou antes, começa a mandar bilhetes nada sutis. uma dorzinha no ombro que nunca vai embora. uma escada que de repente parece um desafio de alpinismo. aquela pizza que costumava ser um abraço calórico agora é um míssil direto para o seu estômago. e o relógio – aquele que você jurava que nem existia – começa a fazer barulho. alto. irritante. impossível de ignorar.

mas sabe o que é mais cruel? aos 50, você tem clareza. a grande ironia da vida é que, justo quando você começa a entender o jogo, o tempo para jogá-lo começa a acabar. e não, não é o medo de morrer que te corrói. é o medo de perceber que você viveu de forma medíocre. que você seguiu as regras, comeu a salada, foi para a cama cedo, e, no final, a única coisa que você tem para mostrar é uma lápide sem graça e uma lista de arrependimentos.

e é aí que entra o sarcasmo da mortalidade. ela te cutuca, te desafia, te joga contra a parede e diz: “então, o que você vai fazer com o pouco tempo que resta?” vai continuar economizando aquele vinho bom para uma ocasião especial que nunca chega? vai continuar dizendo “não” porque tem medo de parecer estúpido? ou vai começar a viver como se tivesse algo a perder – porque, cara, você tem. você tem o agora.

então, sim, a mortalidade é impiedosa. mas também é o melhor lembrete de que a vida é curta demais para ser vivida com moderação. você vai morrer. isso é garantido. mas enquanto isso, coma o maldito bacon, pegue o voo mais barato para o lugar mais estranho, beba o uísque antes do meio-dia e conte as histórias mais absurdas que puder. porque a única coisa pior do que morrer é perceber, no último segundo, que você nunca viveu.