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2024

parando de complicar feito um idiota

a humanidade tem uma habilidade impressionante: transformar a vida, que deveria ser um jazz improvisado, num balé russo de passos meticulosamente dolorosos. me incluo nisso, claro. passamos anos achando que a felicidade está escondida dentro de uma planilha do excel, ou talvez numa dieta sem glúten, sem lactose, sem alegria. acreditamos piamente que, se conseguirmos controlar todas as variáveis, de alguma forma vamos hackear a existência. e o que ganhamos? gastrite nervosa e a insônia como companheira fiel.

mas aí, num dia qualquer – tipo aquele em que você está atolado no trânsito, ouvindo um locutor de rádio com a voz irritante tentando te vender um colchão ortopédico – a epifania chega. “porra, talvez eu esteja complicando tudo.” é como ser atingido por um raio de sanidade enquanto o resto do mundo insiste em explodir.

de repente, o óbvio te dá um tapa na cara: por que, diabos, transformar a vida num checklist interminável? por que a obsessão em transformar tudo num maldito projeto de engenharia? talvez, só talvez, não seja necessário desidratar emocionalmente para fazer uma escolha trivial, tipo que sabor de sorvete pedir.

descobrir que as coisas podem ser mais leves é quase insultante de tão simples. você percebe que passou anos empilhando camadas de complicação como se fosse construir um bolo de sete andares, quando tudo o que precisava era de um pão com manteiga e um café preto. então, você olha pro passado – pros cronogramas, pras conversas que não precisavam ter existido, pras noites em que ficou acordado revisando mentalmente diálogos que ninguém mais lembrava – e só consegue pensar: “puta merda, que perda de tempo.”

e, claro, há uma resistência. porque o ser humano tem um fetiche absurdo por sofrimento autoprovocado. adoramos a ideia de que quanto mais complicada a vida, mais épica nossa jornada. como se estar atolado até o pescoço em burocracia emocional fosse algum tipo de mérito. mas, sinceramente, quem disse que viver precisa ser uma ópera trágica? talvez a vida seja mais punk rock: direto, cru, sem firulas. três acordes e pronto.

a real é que desapegar da complicação é um ato de terrorismo pessoal. é olhar pra bagunça e decidir que, hoje, você não vai resolver porra nenhuma. e, sabe do que mais? o mundo segue girando. ninguém morre porque você decidiu que não precisa justificar sua existência com cada escolha. na verdade, eles nem percebem.

não estou dizendo que você vai acordar iluminado, flutuando sobre o sofá, livre de todas as amarras. mas talvez, só talvez, você perceba que a vida pode ser algo mais próximo de um almoço preguiçoso do que um banquete de gala. e, convenhamos, quem prefere usar smoking pra comer?