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2024

espiritualidade

espiritualidade na minha vida? olha, se você acha que vou te vender uma história edificante sobre “encontrar a luz” ou descobrir um propósito divino, sinto muito. mas a verdade é que, sim, existe um tipo de espiritualidade no meu dia a dia. não a versão instagramável, com fontes de água zen e ânforas de aroma cítrico, mas algo mais cru, mais próximo da realidade – aquela que cheira a café derramado na pia e às vezes tem gosto de derrota, mas ainda assim insiste em me dar um empurrão.

eu não sou o tipo que faz ioga ao nascer do sol ou que decora o nome de todos os deuses de todas as religiões. também não vou fingir que tenho as respostas – longe disso. mas tem algo. algo que pulsa em meio ao caos. algo que aparece nas brechas, quando eu menos espero. espiritualidade, na minha vida, é como aquele amigo que chega sem avisar, com um sorriso maroto, e diz: “vai, levanta, ainda tem jogo.”

é aquele momento em que você, mesmo depois de um dia desgraçado, olha para o céu (sim, o clichê do céu, porque às vezes ele é mais do que um pano de fundo azul) e sente alguma coisa. um fio de conexão. um lembrete de que você faz parte de algo maior. ou menor. ou igual. tanto faz, porque naquele instante, nada mais importa além do fato de que você está ali. respirando. existindo.

espiritualidade pra mim é mais prática do que mística. está em detalhes que ninguém ensina a valorizar porque não são bonitos o suficiente para caber em um discurso motivacional. é na sensação de lavar o rosto com água fria depois de uma noite mal dormida. é no silêncio de quando tudo finalmente para, e você ouve o som do nada – um nada que, de repente, parece cheio de sentido. é no toque de quem você ama, no riso inesperado, na certeza de que mesmo o dia mais caótico tem um lado de beleza, por menor que seja.

não vou te enganar dizendo que vivo em um estado constante de gratidão. não, eu reclamo, me irrito, quero jogar tudo pro alto como qualquer pessoa normal. mas espiritualidade na minha vida é o que me faz voltar ao eixo. não um eixo fixo, daqueles que você amarra no chão, mas um que balança, que desvia, que se adapta. é aquele lembrete interno que sussurra: “cara, você ainda está aqui. aproveita enquanto dá.”

talvez seja isso, no final. espiritualidade é aprender a apreciar o caminho – o feio, o bonito, o absurdo e o inesperado. é deixar o mundo bagunçado ser o que ele é, enquanto você encontra pequenas formas de beleza, de sentido, de respiro. não porque você tem que, mas porque, no fundo, você quer. e isso, pra mim, já é milagre suficiente.