
meu processo criativo é uma bagunça, mas não aquele tipo de bagunça charmosa que você vê em filmes franceses, com pilhas de livros estrategicamente desarrumadas e uma xícara de café esfriando numa mesa de madeira rústica. não. é uma bagunça visceral, selvagem, quase grotesca, como um porão cheio de fios desencapados prestes a causar um curto-circuito. meu cérebro nunca, nunca para. é uma máquina de destruição criativa que não obedece a botão de desligar. um caos incessante que, se eu não encontrar uma maneira de escoar, explode – e geralmente, explode em palavras.
quando estou no hyperfoco, não sou humano. sou um ser possuído, uma espécie de aberração de laboratório que não dorme, não come, mal respira. é como se o universo inteiro fosse sugado por um buraco negro que eu criei na minha própria mente. nada mais importa. compromissos? relações humanas? necessidades básicas? ridículo. o mundo exterior é um eco distante que mal registro. eu me torno um animal movido a pura obsessão. enquanto as pessoas normais tentam “encontrar o equilíbrio”, eu desço em queda livre no desequilíbrio e começo a cavar mais fundo. não existe outro jeito de funcionar. cada palavra que escrevo, cada ideia que transformo em algo tangível, é como arrancar um pedaço de mim e jogá-lo no papel. é um processo violento e exaustivo, mas absolutamente necessário.
e quando não estou nesse estado de febre criativa? o ócio. o glorioso e subestimado ócio. enquanto o mundo prega a produtividade incessante, eu dou risada e me recosto, deixando a mente vagar como um cachorro solto em um campo cheio de esquilos. porque aqui está o segredo que ninguém quer admitir: o ócio não é perda de tempo. é pré-produção. é o terreno fértil onde as ideias crescem antes de serem arrancadas e transformadas em algo mais. enquanto os outros se afogam em listas de tarefas e cursos de como “hackear” a criatividade, eu me dedico à deliciosa arte de não fazer nada. mas, veja bem, meu cérebro não sabe o que significa “nada”. até no ócio ele trabalha. ele pega fragmentos de pensamentos e começa a juntá-los, como uma criança hiperativa brincando com peças de lego, montando castelos e depois destruindo tudo só pelo prazer de começar de novo.
é por isso que escrevo tanto, até mesmo aqui. não é porque eu quero. é porque eu preciso. escrever é o único jeito de descomprimir meu cérebro antes que ele me engula vivo. cada texto que sai de mim é uma válvula de escape, uma tentativa desesperada de domar o caos. e mesmo assim, nunca é o suficiente. é como tentar esvaziar um oceano com um balde furado. mas eu continuo. porque o que mais eu posso fazer? parar? ha. se eu parasse, minha mente entraria em combustão espontânea, e você provavelmente veria meu nome estampado num jornal ao lado de uma manchete sensacionalista.
o fato é que meu processo criativo não é bonito. não é organizado. não é algo que você encontraria num curso motivacional com powerpoints coloridos e frases inspiradoras. é bruto. é exaustivo. é um inferno particular que, de alguma forma, gera algo que vale a pena compartilhar. e no final do dia, por mais caótico e insano que seja, eu aceito. porque essa é a minha arma. o caos é o meu combustível, e o ócio, meu campo de treino. então, enquanto os outros procuram a fórmula mágica da produtividade, eu estou aqui, no meu próprio pequeno apocalipse, criando coisas que talvez não precisassem existir, mas que, de alguma forma, sempre encontram uma razão para estar.