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2024

ler

ler, de verdade, não é para qualquer um. vamos deixar isso claro. é um esporte de resistência, uma prática cruel e solitária para aqueles que ainda têm a audácia de achar que podem entender algo mais complexo do que uma legenda de instagram ou uma dancinha no tiktok. porque um bom livro, um livro de verdade, não te dá nada de bandeja. ele não está aqui para te agradar, te confirmar ou te massagear o ego. ele está aqui para te testar. te confundir. te ferrar.

os melhores livros? esses são os piores. os que te fazem sentir burro. os que você fecha, olha para a capa e pensa: “eu perdi alguma coisa aqui, não é possível.” e perdeu mesmo. porque um bom livro é como aquele cara mal-encarado no bar que sabe que é mais esperto que você e ainda faz questão de esfregar isso na sua cara. ele joga referências que você não entende, constrói frases que te fazem tropeçar, te dá silêncios que parecem cheios de significados que, honestamente, você provavelmente nunca vai captar. e é exatamente por isso que você volta. porque você quer, desesperadamente, provar que é capaz.

mas aqui está o segredo: você nunca é. os livros que realmente importam são aqueles que você entende em camadas. lê aos 20, acha uma coisa. lê aos 40, acha outra. aos 60, percebe que estava errado o tempo todo. e aí morre. e o livro continua lá, inalterado, enquanto você apodrece na ignorância. porque é assim que funciona. livros não precisam de você. eles estavam aqui antes de você e continuarão depois que você virar poeira. mas você precisa deles. precisa da porrada intelectual, da humilhação, do soco no estômago que só um bom texto pode te dar.

então, sim, a leitura exige que você desenvolva uma tolerância quase zen para a incompreensão. e, sejamos honestos, isso não é para todo mundo. vivemos em uma época em que as pessoas não conseguem lidar com cinco segundos de silêncio sem pegar o celular para “ver algo rápido.” imagina encarar 400 páginas de algo que você nem sabe se vai entender. mas, se você ainda acredita nisso — na beleza de ser desafiado, na glória de não entender nada hoje e talvez entender um pouco amanhã —, parabéns. você é um dos últimos. um dinossauro perdido em um mundo de idiotas. boa sorte aí.