
deixa eu te contar uma coisa. no começo, eu era o rei do “sim”. o cara que não sabia a diferença entre oportunidade e roubada. eu dizia “sim” pra tudo como se minha vida dependesse disso – porque, de certa forma, achava que dependia. me jogava de cabeça em qualquer projeto, qualquer convite, qualquer aventura. mesmo que fosse para carregar caixotes no porão de um restaurante fuleiro por umas moedas, ou ir a uma festa de gente insuportável fingindo que eu dava a mínima. porque, né, “tudo é experiência”, me diziam. e eu acreditava. pobre coitado.
“sim” virou meu mantra, meu passe livre para o mundo. “sim, eu trabalho de graça.” “sim, eu aguento mais um chefe babaca.” “sim, eu vou naquele bar de merda com gente que odeio.” porque, claro, tinha aquela voz na minha cabeça dizendo: vai que isso é a porta de entrada pra algo incrível? mas deixa eu te contar: 99% dessas portas não levam a lugar nenhum. ou, pior, levam direto pro inferno. e, por um tempo, você vai tolerar isso. porque, veja bem, o início é sobre acumular histórias. aprender. tomar porrada.
mas então, como toda boa tragédia, a ficha cai. você acorda um dia e percebe que está vivendo a vida de todo mundo menos a sua. aceitou tanto lixo que virou lixeira. se deixou engolir por um tsunami de favores, projetos inúteis, e reuniões que podiam ter sido um e-mail – e ainda assim, nem um e-mail você queria receber. o “sim” te deixou exausto, drenado, vazio. e é aí que vem o momento de iluminação: aprender a dizer “não”.
parece simples, né? não é. dizer “não” é um exercício diário de resistência. é botar limite nas pessoas e no mundo. é olhar na cara do fulano que quer que você “faça isso rapidinho” e responder: “não, meu amigo, eu não vou ferrar meu dia pra consertar o seu.” e deixa eu te dizer, o primeiro “não” dói. parece que você está quebrando um pacto sagrado. mas, cara, é libertador. dizer “não” é como arrancar uma farpa gigante do pé que você nem sabia que estava lá.
mas tem um truque aqui. não é só sobre dizer “não” pra tudo e virar um ermitão ranzinza (embora, honestamente, às vezes pareça uma boa ideia). é sobre saber pra quem e pra quê você diz “sim”. porque quando você diz “não” pra besteiras, você cria espaço pro que realmente importa.
lembra daquela sensação de pular numa piscina sem saber o que tem dentro? bom, agora você já sabe que algumas estão cheias de porcaria. mas outras? outras são refrescantes, desafiadoras, transformadoras. e você só descobre isso aprendendo a discernir.
então, meu conselho? no começo, diga “sim”. diga “sim” até pro trabalho mais ridículo, pra ideia mais idiota, porque você precisa aprender onde estão os limites – e, spoiler: você só aprende passando por eles. mas quando você começar a entender o jogo, quando já tiver um arsenal de histórias pra contar e cicatrizes pra exibir, é hora de virar a chave. seja o mestre do “não”.
e quando te perguntarem por que você mudou, por que não está mais disponível pra todo mundo, responda com um sorriso de canto de boca: “porque finalmente entendi que meu tempo vale mais do que isso.”