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2024

odeio livros de aeroportos

ah, os livros de autoajuda. esses monumentos ao pensamento fast-food. a cura de bolso para tudo o que não presta na sua vida, desde a conta no vermelho até sua incapacidade crônica de ser interessante em festas. estão sempre lá, empilhados em postos de gasolina e aeroportos, com capas berrantes e títulos que soam como a conversa fiada de um vendedor de seguros em uma happy hour.

“como convencer alguém em 90 segundos”. sério? se você precisa disso, talvez seja melhor começar aceitando que nem com 90 minutos vai rolar. ou “hábitos de milionários”. porque é claro que o segredo está em tomar banho gelado e fazer yoga às cinco da manhã. se fosse assim tão simples, o planeta estaria cheio de bilionários e vazios de idiotas. spoiler: não está.

mas o pior nem é o conteúdo; é a pretensão. “seja um líder de heróis”? a maioria das pessoas não consegue liderar um grupo no whatsapp sem virar um caos, mas aí vem esse livrinho e promete transformar qualquer zé ninguém em um cruzamento de gandalf com steve jobs. como se heróis quisessem ser liderados por alguém que comprou sabedoria a prestações em 12 vezes sem juros.

“o poder da ação nas finanças”. sério, essa frase soa como se um gerente de banco tivesse escrito num guardanapo em um bar depois de perder as esperanças com a humanidade. “desbloqueie o poder da sua mente”? vamos lá, se você está comprando isso, já está bem claro que sua mente veio com o cadeado de fábrica e sem a chave.

aí vem a cereja no bolo: “o método silva de controle mental”. o quê, é isso? você lê o livro e de repente vira um professor x dos pobres? spoiler: o único controle mental que você vai conseguir é convencer a si mesmo de que gastar dinheiro nisso foi uma boa ideia.

o problema desses livros não é só serem ruins. ruins seria um elogio. eles são a praga cultural de um mundo que prefere a promessa de uma solução instantânea ao desconforto de, sei lá, pensar de verdade. vendem a ideia de que você pode transformar sua vida antes de aterrissar em guarulhos, mas tudo o que realmente transformam é a conta bancária do autor.

e o mais maravilhoso desses livros? eles sempre têm aquela aura de “eu sei algo que você não sabe”. como se o autor, sentado em algum café hipster ou no porão da casa da mãe, tivesse descoberto o santo graal do sucesso e decidisse compartilhar com você — mas só depois de você passar o cartão, claro. eles nunca, jamais, vão te dizer algo revolucionário. são só reciclagens de clichês que fazem um powerpoint de reunião corporativa parecer um tratado filosófico.

e vamos falar da estética disso tudo. essas capas. sempre tão gritantes, tão desesperadas para chamar sua atenção, como aquele tio bêbado no churrasco tentando ser o centro das atenções. dourado metálico, tipografia gigante, frases que mais parecem gritos de guerra de um exército de idiotas. é quase poético como são feias. parecem feitas no paint por alguém que acha que design gráfico é só jogar um degradê no fundo e voilà.

e sabe o que mais me irrita? é que eles vendem. eles vendem como água no deserto. porque somos todos tão pateticamente desesperados para acreditar que existe um atalho, uma fórmula mágica, que estamos dispostos a engolir qualquer besteira. não importa que a única coisa que você aprenda seja como gastar mais dinheiro em promessas vazias. o ciclo nunca acaba.

no fundo, esses livros não são sobre melhorar ninguém. são sobre alimentar a indústria do autoengano. eles pegam a insegurança, a incerteza, o medo de falhar — e transformam isso num produto. e você, caro leitor, é o produto. parabéns. você acabou de comprar o equivalente literário de uma pirâmide financeira.

então sim, odeio esses livros. odeio o que representam. odeio o que fazem com as pessoas. mas o que mais odeio? é que eles continuarão a existir. porque enquanto houver gente disposta a acreditar em atalhos, enquanto houver aeroportos e postos de gasolina, essas pragas estarão lá, sorrindo para você, prometendo o que nunca entregarão. e você, talvez, continuará comprando.