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2024

você leu minha mensagem?

o fetiche moderno pela instantaneidade. essa obsessão patética por respostas imediatas. vivemos numa época em que a pausa, o silêncio e até a reflexão foram transformados em sinais de descaso ou afronta pessoal. porque, claro, como ouso demorar cinco, dez, quinze minutos para responder, quando você, na sua grandiosidade, decidiu me agraciar com uma mensagem? é quase como se eu tivesse cometido um crime de lesa-majestade.

mas vamos ser honestos: essa pressa, essa mania de “visualizou e não respondeu”, é a personificação de uma sociedade mimada. ninguém quer entender que o mundo não gira em torno de suas urgências. e aqui vai uma novidade para você: meu tempo não é um drive-thru de fast food emocional, onde você faz um pedido e espera que eu entregue a resposta na velocidade de uma batata frita murcha. eu gosto de pensar, refletir, até ponderar se a sua mensagem sequer merece minha atenção. e, sim, às vezes eu decido que ela não merece. que horror, não?

vivemos numa realidade onde a profundidade está morta. as pessoas não querem uma resposta bem pensada, articulada, ou – deus me livre – interessante. elas querem um “sim”, um “não”, um “kkk”, qualquer coisa para sustentar a ilusão de que são importantes o suficiente para merecer prioridade na sua vida. mas aqui vai o choque: eu não funciono assim. eu não sou um algoritmo, e meu cérebro não opera no ritmo do wi-fi. se você acha que precisa de uma resposta minha em tempo real, talvez o problema não seja minha demora, mas a sua incapacidade de lidar com o próprio tédio. já pensou nisso?

e vou além: responder rápido é supervalorizado. sabe o que vale mesmo? responder direito. mas para isso, eu preciso de algo que está em extinção: tempo. tempo para processar, para pensar, para decidir se eu realmente quero investir energia em você ou no que você está perguntando. porque, no final das contas, responder rápido é fácil, qualquer um faz. o que é raro – e, vamos ser sinceros, muito mais valioso – é responder com conteúdo. e isso, meu caro, exige paciência. algo que, pelo visto, você não tem.

então, a próxima vez que eu “demorar” para responder, aproveite o momento para refletir sobre a sua dependência desesperada por atenção imediata. talvez você aprenda algo. ou, quem sabe, descubra que o silêncio pode ser bem mais interessante do que qualquer mensagem que eu poderia mandar.