
eu tenho uma regra simples para qualquer cidade nova: fuja do hotel. sim, aquele lobby lustroso com aroma de baunilha artificial, as toalhas dobradas como cisnes e o menu do serviço de quarto prometendo “clássicos internacionais”. é uma armadilha, uma prisão de quatro estrelas que te coloca o mais longe possível da alma do lugar onde você está. não caia nessa. corra. fuja. jogue fora o mapa, esqueça o concierge. você quer aventura ou só mais uma foto de um prato insosso pra postar com a legenda “vibes”? escolha.
regra dois: evite turistas como se eles fossem um vírus altamente contagioso. se o lugar tem fila de gente com mochilas de trekking e chapéus de palha, você já perdeu. se a placa do restaurante é bilíngue, ou pior, trilíngue, nem passe pela calçada. qualquer lugar que use as palavras “autêntico” ou “tradicional” no cardápio já está mentindo na sua cara. se o garçom te cumprimenta em inglês antes mesmo de você abrir a boca, saia. rápido. esses lugares existem para confortar turistas, não para alimentá-los.
o verdadeiro jogo começa com a regra três: encontre o restaurante que ninguém te recomendaria. o lugar que parece meio decadente, com cadeiras tortas, mesas de fórmica arranhadas e um cardápio que talvez nem exista. você quer aquele tipo de restaurante onde os clientes são vizinhos, amigos do dono, talvez até parentes. aquele que parece existir para eles, e não para você. é aí que mora a verdade.
não sabe onde achar? fácil. vá até um lugar qualquer – um mercado, um café, até mesmo um taxista – e pergunte: “onde você come?” mas faça isso do jeito certo. nada de “onde está o melhor restaurante da cidade?” – porque ninguém vai te levar a sério. pergunte como quem quer um segredo, algo que eles só dividem com os amigos. a resposta quase sempre vai te levar a um canto esquecido da cidade. perfeito. se ouvir o mesmo nome mais de uma vez, bingo.
quando chegar lá, não espere nada “instagramável”. você não está atrás de flores comestíveis ou apresentações dignas de reality show gastronômico. você está atrás de uma cozinha que ainda não se rendeu. a comida vai ser simples, direto ao ponto e, se você tiver sorte, feita com amor de verdade. aquele tipo de amor que vem de alguém que aprendeu a cozinhar com a avó e não com um chef de estrela michelin.
sente-se. peça o que eles recomendarem. e quando o prato chegar, esqueça a estética. mergulhe de cabeça. porque ali, naquele garfo de algo que você não consegue pronunciar direito, está a alma de uma cidade. não a versão polida para turistas, mas a real. a que te alimenta, não te impressiona.
no fim das contas, as melhores experiências não têm endereço no google maps. elas não vêm com fotos bonitas ou hashtags. elas vêm de errar o caminho, de perguntar para as pessoas certas e de estar disposto a entrar em lugares que parecem nada – e descobrir que são tudo.